Felipe Basso no Baguete

A
bibliotecária exigiu silêncio quando adentrei o local. Eu já tinha
estado na biblioteca outras vezes, mas essa era a primeira para ler.
Havia não mais do que cinco ou seis pessoas, e cada uma ocupava uma das
grandes mesas, cada uma com capacidade para até oito pessoas,
tranquilamente. Meus passos no chão de madeira velha faziam barulho, um
barulho natural para aquele chão de madeira velha, mas para a
bibliotecária era um som alto demais que poderia atrapalhar aquelas
cinco ou seis pessoas. Ela pediu que me sentasse e dissesse o livro que
procurava.
Não
sabia a resposta, não sabia que deveria conhecer o nome do livro. Como
não sabia, disse não sei. O desconhecimento pareceu causar espanto
naquela senhora, que me devolveu a resposta com uma nova pergunta.
- Mas o professor não disse qual era o livro?
Não,
nenhum professor tinha dito nada, até porque a ideia de conhecer a
biblioteca tinha partido livremente de mim, uma vez que a roda gigante e
as demais brincadeiras no pátio da escola, embora altamente atraentes,
não estavam conseguindo segurar minha atenção naquele dia.
- Não. Eu só queria ler um livro.
Qualquer
um. Dessa vez, mais do que espantada, a bibliotecária expressou em sua
fisionomia um ar intrigado, como se ela esperasse por aquilo há muito
tempo, mas não mais nutrisse esperanças de que aquilo um dia viesse
realmente a acontecer.
- Quer dizer que você veio de livre espontânea vontade à biblioteca para ler?
- Sim. Isso mesmo. – Espere um momento.
Aguardei
como me fora pedido, enquanto a bibliotecária percorria os olhos em uma
das estantes. Nem dois minutos se passaram e ela voltou com um livro.
-
Toma, comece por esse aqui. A capa trazia quatro nomes. Cecília
Meireles, Henriqueta Lisboa, Fernando Sabino e Vinicius de Moraes e em
cima estava escrito Para gostar de ler
– Volume 6 – Poesias.
Depois de ler os nomes, não comecei a ler o livro, mas sim passei a observar os outros. Eles eram leitores como eu queria ser? Será que para se ser um leitor, seria necessário ficar aquele tempo todo em silêncio, sem poder falar?
Porque
então não criar diversos espaços, uns para ficar em silêncio lendo e
outros nos quais os leitores pudessem dividir o que liam, contar as
histórias aprendidas nos livros? Não sei por quanto tempo fiquei absorto
nesses pensamentos, mas com certeza não foi pouco, pois fui
interrompido pela bibliotecária.
-
Eu sabia que você não tinha vindo aqui pra ler. Porque não vai pro
pátio ao invés de interromper os que estão realmente interessados nos
livros?
Era preciso muito mais do que livros para gostar de ler, foi o que pensei enquanto saía da biblioteca.
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