27.7.16

[Resenha #989] 1984 - George Orwell @ciadeletras




1984
George Orwell
ISBN-13: 9788535914849
ISBN-10: 8535914846
Ano: 2009
Páginas: 416
Editora: Companhia das Letras
Classificação: 5 estrelas
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Sinopse:
Romance distópico clássico do autor britânico George Orwell. Terminado de escrever no ano de 1948 e publicado em 8 de Junho de 1949, retrata o cotidiano de um regime político totalitário de modelo comunista. No livro, Orwell mostra como uma sociedade oligárquica é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. O romance tornou-se famoso por seu retrato da difusa fiscalização e controle de um regime coletivista-socialista na vida dos cidadãos, além da crescente invasão sobre os direitos do indivíduo. Desde sua publicação, muitos de seus termos e conceitos, como "Big Brother", "duplipensar" e "Novilíngua" entraram no vernáculo popular. O termo "Orwelliano" surgiu para se referir a qualquer reminiscência do regime ficcional do livro. O romance é geralmente considerado como a magnum opus de Orwell. De facto, 1984 é uma metáfora sobre o poder e atuação dos regimes comunistas, Orwell o escreveu animado de um sentido de urgência, para avisar os seus contemporâneos e às gerações futuras do perigo que corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose - para poder acabá-lo. Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais da esquerda que percebeu para onde o estalinismo caminhava e é aí que ele vai buscar a inspiração: percebe-se facilmente que o Grande Irmão não é senão Stalin e que o arqui-inimigo Goldstein não é senão Trotsky. Explicando que seu objetivo básico com a obra era imaginar as consequências de um governo stalinista dominante na sociedade britânica, Orwell disse: "1984 foi baseado principalmente no comunismo, porque essa é a forma dominante de totalitarismo. Eu tentei principalmente imaginar o que o comunismo seria se estivesse firmemente enraizado nos países que falam Inglês, como seria se ele não fosse uma mera extensão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia."



Resenha:

1984, escrito por George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair), é um romance distópico cujo protagonista é Winston Smith, de 39 anos. Nesse universo criado por Orwell, o mundo se divide em três grandes potências, a Oceania, a Eurásia e Lestásia.




Winston vive na Oceania, onde um regime totalitário está instalado. O Partido comanda a tudo e a todos, e a personificação do Partido é o Big Brother (Grande Irmão), um rosto que está em todos os lugares, nos muros, nas paredes, nas moedas e dentro das casas, o que garante um dos lemas do Partido: “o grande irmão está de olho em você”.

“O Grande Irmão é infalível e todo-poderoso.” p. 245

Nessa sociedade, as pessoas são divididas em três classes: os membros do Núcleo do Partido, os membros do Partido Externo e os chamados proletas, que correspondem à escória da sociedade e que representam 85% da população da Oceania. As três classes correspondem, respectivamente, às classes alta, media e baixa. Winston é um membro do partido externo.




O Partido conta com quatro Ministérios: O Ministério da Verdade, O Ministério do Amor, o Ministério da Pujança e o Ministério da Paz. Cada ministério possui uma função diferente e antagonicamente correspondente ao seu nome. O Ministério da Verdade (onde Winston trabalha), por exemplo, cria os fatos e distorce a realidade quando preciso, ou seja, o Ministério da Verdade cria mentiras. Se, por exemplo, uma das previsões do Grande Irmão se mostra equivocada, cabe aos trabalhados do Ministério da Verdade, reescrever a história, mudando o passado e garantindo que a previsão do Grande Irmão corresponda à realidade. Portanto, o passado é aquilo que o Partido quer que ele seja.


“Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era atualizado. Desse modo era possível comprovar com evidencias documentais que todas as previsões feitas pelo Partido haviam sido acertadas; sendo que, simultaneamente, todo vestígio de notícia ou manifestação de opinião conflitante com as necessidades do momento eram eliminados. A história não passa de um palimpsesto, raspado e reescrito tantas vezes quantas fosse necessário.” p. 54


Os três slogans do Partido são: Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força. Todas as pessoas são vigiadas o tempo todo. Nas ruas, nas casas, nos estabelecimentos comerciais e em todos os lugares imagináveis, há as chamadas teletelas, que funcionam como uma TV, ou seja, transmitem imagem e som, mas que também “vêem” e “ouvem” tudo.

Na Oceania não existem leis, o único crime é não amar o Partido e o Grande Irmão. Para garantir essa regularidade, existe a Polícia das Ideias, que garante que nenhum crime aconteça, seja em forma de ações ou em forma de pensamentos, o que é chamado de crime de pensamento. As teletelas registram tudo e estão sempre atentas a qualquer sinal de crime de pensamento, o que pode ser identificado por conversas, expressões faciais e até mesmo em coisas que as pessoas dizem enquanto dormem.


“Era terrivelmente perigoso deixar os pensamentos à solta num lugar público qualquer ou na esfera de visão de uma teletela. Qualquer coisinha podia ser uma perdição. Um tique nervoso, um olhar inconsciente de ansiedade, o hábito de falar sozinho – tudo o que pudesse produzir uma impressão de anormalidade, de que tinha alguma coisa a esconder.” p. 79


Por tudo isso, os moradores da Oceania vivem em constante vigilância, extrema pobreza e sem conseguir estabelecer laços profundos com ninguém. Até mesmo os casamentos entre membros do Partido precisam ser aprovados pelo Partido e, se houver qualquer indicio de atração sexual entre os possíveis parceiros, não há a menor possibilidade de o casamento ocorrer.  O sexo possui o único e exclusivo objetivo de procriar. Para piorar ainda mais, a Oceania está em guerra desde que os seus moradores se lembram. Bombardeios e medo cercam a vida de todos.



Um dos conceitos mais complexos criados por George Orwell é o duplipensamento. O duplipensamento é ato de abrigar simultaneamente duas crenças contraditórias e acreditar em ambas, alterando conscientemente a realidade e conscientemente se esquecendo de que a alteração aconteceu. Ou seja, se o Partido diz que quatro mais quatro é igual a cinco, não há o que questionar. E o pior é que, a influencia e o amor das pessoas pelo Partido é tão grande que todos acreditam veemente em tudo o que o Grande Irmão diz.

Por exemplo, houve um tempo em que a Oceania estava em guerra com a Lestásia e era aliada da Eurásia. Alguns anos depois, a Oceania entrou em guerra com a Eurásia e se aliou à Lestásia. No entanto, nos registros e na memória coletiva dos moradores, a Oceania, na verdade, sempre esteve em guerra com a Eurásia e sempre foi aliada a Lestásia. Nunca foi diferente.


“Tudo o que fosse verdade agora fora verdade desde sempre, a vida toda. Muito simples. O indivíduo só precisava obter uma série interminável de vitórias sobre a própria memória. “Controle da realidade”, era a designação adotada. Em Novafala: “duplipensamento”.” p. 47

Diante desse cenário, Winston, nosso personagem principal, começa a se questionar e a duvidar sobre o Partido ser mesmo o melhor para o povo. Porém, como se rebelar contra o sistema em uma sociedade altamente totalitária, vigilante e cruel, onde qualquer indicio de discordância para com o Partido pode gerar consequências devastadoras?
Acontece que aqueles que se voltam contra o Partido são vaporizados. Ou seja, elas simplesmente somem, assim como qualquer indicio de que algum dia ela existiu, seu nome é apagado e essa pessoa não só deixa de existir como “nunca existiu”.


“O mais comum era que as pessoas que caíam em desgraça no Partido simplesmente desaparecessem e nunca mais se ouvisse falar delas.” p. 59



Isso é tudo que vocês precisam saber antes de correrem para ler o livro. 1984 é uma obra-prima, um tesouro da literatura. George Orwell tece detalhes e nos lança em uma sociedade que nos causa arrepios e, pouco a pouco, vai nos mostrando o quão ingênuos somos em acreditar que estamos em um mundo muito diferente do que ele criou. Suas análises e críticas à sociedade nos causam profundo desconforto e vergonha. A forma como a sociedade descrita no livro se assemelha com o mundo em que vivemos é chocante. 1984 é o reflexo do que somos, doloroso e incômodo.


Depois que começamos a ler se torna quase impossível parar. George Orwell criou um dos heróis mais afáveis da literatura. Smith desperta em nós enorme compaixão com seus questionamentos, seu desejo por mudança, sua esperança por um mundo melhor e, simultaneamente, cresce em nós a convicção de que o progresso é quase impossível. Nos sentimos presos junto com ele, nos escondendo quando, na verdade, queríamos nos libertar. O livro é angustiante e tocante de uma forma indescritível. 1984 é o melhor livro que já li, merece todo meu amor e minha admiração.




Um comentário

  1. Parabéns pela resenha! Esse é um dos meus livros favoritos, e também dei 5 estrelas para ele no meu blog. É uma obra marcante, relevante e assustadoramente atual.

    Se quiser conhecer a minha crítica sobre o livro...

    http://gabrielcomletras.blogspot.com/2016/06/1984-george-orwell-1949.html

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