30.6.17

[Resenha #1233] Não Me Abandone Jamais - Kazuo Ishiguro @cialetras


Não Me Abandone Jamais
Kazuo Ishiguro
ISBN-13: 9788535926552
ISBN-10: 8535926550
Ano: 2016
Páginas: 344
Editora: Companhia das letras
Skoob
Classificação: 4 estrelas
Compre: Amazon

SINOPSE: Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de cuidadora. Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto, esse internato idílico esconde uma terrível verdade. 'Não me abandone jamais' reflete, através da ficção científica, a questão da existência humana.



Resenha:

NÃO ME ABANDONE JAMAIS é o meu primeiro contato com a escrita do Kazuo Ishiguro. Ao ler a sinopse fique bastante curiosa à respeito do livro, e depois descobri que este deu origem a um filme. Acredito que vale a pena conferir!
Esta é uma ficção que trata de forma profunda e cheia de significado a importância das relações humanas e de reconhecer a si mesmo. O livro é narrado pela Kathy H. e é divido em três partes: na primeira parte somos apresentados à vida em Hailsham; na segunda parte, Kathy narra como era a vida no Casario; e na terceira parte, ela conta sua experiência como cuidadora.  

“Você disse que tem certeza? Certeza de que estão apaixonados? E como é que você sabe disso? Então acha que o amor é coisa assim tão simples?”



Kathy é uma das muitas crianças que vivem em um internato – Hailsham – no interior da Inglaterra. Já durante a infância essas crianças sabem que são especiais e que estão ali para cumprir um propósito, mas não sabem ao certo o que isso significa. Sabem que o destino final de todos é se tornarem doadores e cuidadores, trabalho ao qual era incumbido aos guardiões instruí-los. Inseridas na vida de Kathy estão duas pessoas muito especiais, Ruth, ora sua melhor amiga ora sua rival e Tommy, seu grande amigo e o amor da sua vida. 

“É muito fácil”, acrescentei eu, “criticar quando estamos só de passagem.”

Em Hailsham, um grande “estímulo” que essas crianças e adolescentes tem é produzir arte, a qual elas acreditam ser importante para a “Madame”, que escolhia as melhores criações e as levavam para a Galeria. Falar da Galeria era um tabu em Hailsham, quase como algo implicitamente proibido, assim como muitas outras coisas. 

"É um momento gélido, esse, o da primeira vez em que você se vê através dos olhos de uma pessoa assim. É como passar diante de um espelho pelo qual passamos todos os dias de nossas vidas e de repente perceber que ele reflete outra coisa, uma coisa estranha e perturbadora."



Algo que não pode deixar de ser comentado é como o autor aborda as relações pessoais entre as personagens. Visto que todos ficaram confinados em Hailsham por grande parte de suas vidas, tudo o que sabiam sobre as relações humanas é resumido às experiências que viveram dentro de Hailsham, e isso reflete na inocência que eles têm, abordada de forma tão sutil na história. Kathy é uma garota introvertida, inteligente e leal às suas amizades. Ruth tem sido sua melhor amiga desde sempre, e mesmo com todos os seus defeitos, Kathy sempre a teve como uma pessoa de confiança. Kathy também mantém uma relação muito estreita com Tommy, e a amizade deles é um dos pontos mais fortes da história. Ao longo da primeira parte da narrativa esses laços são desenvolvidos de forma acelerada, porém bem retratada. Tommy era um garoto bastante problemático e Kathy o ajudava em diversas situações. O seu comportamento também era percebido pelos guardiões, que soltavam algumas pistas que eram percebidas pelos dois amigos, mas o que isso representa na história só descobrimos mais adiante.  



Como mencionado, a segunda parte retrata a vida desses jovens no Casario, que é um local com pessoas mais velhas, onde eles possuem certa liberdade e descobrem como é viver uma vida sem a intervenção dos guardiões e onde tem um vislumbre de como será a vida dali em diante. É onde aprendem, também, mais sobre a relação amorosa. No casario, os jovens vindos de Hailsham são vistos como privilegiados, situação muito bem-vinda pela Ruth, que se torna cada vez mais distante de Kathy. 

Já a terceira parte, trata-se da inesperada decisão da Kathy de se tornar uma cuidadora, que é uma pessoa designada a cuidar dos doadores e auxiliá-los durante o processo de doação. Durante esse tempo, Kathy perde o contato com Ruth e Tommy, mas devido a sua habilidade como cuidadora, Kathy pôde escolher dentre seus doadores, Ruth e Tommy, de forma que eventualmente, eles se reaproximaram. 


Mesmo sabendo do que o livro se trata, alguns pontos são tão obscuros para o leitor quanto são para as personagens. E em alguns momentos, um em especial, somos arrebatados pela dura verdade da frieza da raça humana e como é tão fácil para alguns tratar as pessoas como simples objetos, cujo único propósito é servir aos seus próprios interesses. Essas pessoas, tenham elas vindo de Hailsham ou não, eram apenas os meios para um fim. 


É uma história muito sensível e muito mais profunda do que aparenta ser, que trata de questões filosóficas, éticas e morais. Traz à tona diversos pensamentos à respeito de quem somos, de quem queremos ser e de como enxergamos tão pouco a fragilidade humana. A leitura se arrastou em alguns momentos, mas apesar disso, o autor mantém acesa a chama de curiosidade no leitor. A editora fez um ótimo trabalho, a diagramação está boa e a capa é bem representativa. 


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