14.1.18

[Resenha #1526] Não Vai Acontecer Aqui - Sinclair Lewis @cialetras


Não Vai Acontecer Aqui
Sinclair Lewis
ISBN-13: 9788556520524
ISBN-10: 8556520529
Ano: 2017
Páginas: 408
Idioma: português 
Editora: Alfaguara
Skoob
Classificação: 5 estrelas

Sinopse: Um homem vaidoso, falastrão, anti-imigrantes e demagogo concorre à presidência dos Estados Unidos — e ganha. Buzz Windrip promete aos eleitores americanos que fará o país próspero e grande novamente, mas acaba trilhando um caminho sombrio. Ele declara o Congresso obsoleto, reescreve a Constituição e desencadeia uma onda fascista no país. O novo regime se torna cada vez mais autoritário, e o jornalista Doremus Jessop pensa que logo o presidente será derrubado, mas quanto tempo é possível esperar? 
Escrito em 1935, "Não vai acontecer aqui" não poderia ser mais atual. Recuperado pela crítica e pelo público após as últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o livro de Sinclair Lewis discute a fragilidade da democracia e o espectro fascista que ronda todo regime livre. Um livro de extrema força visionária, que mostra a maestria de Sinclair Lewis em construir uma fábula sobre como a complacência liberal pode se tornar vítima da tirania.



Resenha:

A literatura pode antecipar a história? Isso é o que parecem pensar as pessoas que depois da inesperada eleição de Trump desenterrou um livro esquecido de Sinclair Lewis (1885-1951), Não Vai Acontecer Aqui. Publicado em 1935, ou seja, onze anos antes do nascimento do atual presidente–, cujo tema é a criação de um Estado fascista nos Estados Unidos. Sinclair Lewis imaginou um candidato à presidência machista, xenófobo e populista que prometia uma nova grandeza para dos Estados Unidos.

Não Vai Acontecer Aqui apresenta desconcertantes paralelos com a situação atual: em um Estados Unidos profundamente afetado pela Crise de 1929, surge a figura do senador Berzelius Buzz Windrip. Windrip chega à Convenção de seu partido (no caso, o Democrata) como um forasteiro, mas que se impõe aos outros pré-candidatos graças às suas habilidades sociais e uma retórica inflamada cujos temas principal são a reparação das supostas humilhações históricas às quais teriam sido submetidas as classes mais baixas do país, a luta contra o desemprego e a expulsão de imigrantes; seu programa é o da restituição de uma moralidade norte-americana supostamente ameaçada pela obtenção de direitos por parte das mulheres, pela organização sindical dos trabalhadores, pela redução dos orçamentos militares e pelo fim da escravidão: ou seja, tornar a “América grande novamente”. Assim como Trump, Windrip tem um secretário do mal, Lee Sarason, “cérebro por trás de um sucesso”, cuja explicação também deve ser buscada no apoio dos fundamentalistas religiosos à sua candidatura e em seu uso dos novos meios de comunicação de massa, com o rádio ocupando aqui o lugar do Twitter.

Lewis escreveu este livro com uma visão extremamente lúcida dos regimes fascistas europeus de seu tempo, mas também como uma advertência sobre o que poderia acontecer nos Estados Unidos se as tendências já existentes se exacerbassem no país. Todos os personagens do romance têm seus correspondentes em pessoas reais; no romance, Windrip ganha a eleição e, embora (como afirma um personagem) “isso não poderia acontecer aqui: somos um país de homens livres”, o ex-senador se lança na criação de um regime fascista caracterizado por uma redução drástica das liberdades civis semelhante ao que Trump pretende. A criação de milícias irregulares e a perseguição aos sindicatos e à imprensa independente por parte do Governo são produto, no romance, de uma visão que também parece ser a da administração Trump, segundo a qual “professores universitários, jornalistas e escritores famosos” envenenaram a população: diante disso só mesmo uma guerra, e Windrip inicia uma contra o México, que acusa de agressões inexistentes, num exercício prematuro de pós-verdade.

“O poder não precisa de desculpas”, diz Windrip: a frase poderia ser um resumo dos primeiros meses de Trump como presidente da nação mais poderosa. No final, o personagem de Lewis (cuja única convicção é “a superioridade de qualquer pessoa que tenha um milhão de dólares”) perde o poder, mas aí já é tarde demais para um Estados Unidos desintegrado e em plena guerra civil. No entanto, sua advertência ecoa poderosamente nos dias de hoje, colocando em evidência as continuidades históricas que explicam a ascensão de Trump, as expressões de intolerância, racismo, ignorância e desespero que percorrem a história norte-americana como sua sombra.


Seus escritos são parte da história cultural norte-americana da mesma maneira que o romance de Sinclair Lewis e que os ataques verbais contra mulheres, homossexuais, afro-americanos, imigrantes, atrizes e jornalistas por parte de Donald Trump refletem ao menos parcialmente as opiniões de muitos norte-americanos. 

Lewis escreveu esse romance sombrio numa época em que intelectuais e burocratas de diferentes lugares estavam dispostos a entregar tudo a homens fortes - Stalin, Mussolini e Hitler - para resolver grandes problemas e fazer as coisas. Eu entendi como uma mensagem que fala tanto ao nosso tempo como no passado, que o caminho para a catástrofe nacional é construído ao longo do tempo, por pessoas que não consideram o preço de seus compromissos com falsidades, fanatismo e maldade. Recomendo muito que todos leiam esse livro!!

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