24.4.18

[Resenha #1612] Piquenique na Estrada - Boris e Arkady Strugatsky @editoraaleph


Piquenique na Estrada
Boris e Arkady Strugatsky 
ISBN-13: 9788576573890
ISBN-10: 857657389X
Ano: 2017
Páginas: 320
Idioma: português 
Editora: Editora Aleph
Skoob
Classificação: 5 estrelas
Compre: Amazon
Sinopse: A cidade de Harmont está mudada. Desde que foi palco de uma das várias invasões alienígenas na Terra, o clima é de incerteza e medo. Os visitantes anônimos não se comunicaram com os terráqueos, e assim deixaram a humanidade com questionamentos aterradores. Nos locais onde eles estiveram, agora zonas proibidas, fenômenos perigosos continuam acontecendo. O trabalho ilegal de Redrick Schuhart, e de todos os outros stalkers, é invadir esse território para coletar e depois comercializar estranhos e misteriosos objetos trazidos de mundos distantes.Publicado pela primeira vez em 1971 na União Soviética, Piquenique na estrada mistura alusões à Guerra Fria e reflexões sobre a insignificância humana. Adaptado para os cinemas no filme Stalker, de Andrei Tarkóvski, é um dos maiores clássicos da ficção científica no leste europeu.


Resenha:
"Um piquenique. Imagine uma estrada no interior, uma clareira na mata, perto da estrada. Abrem-se as portas, e sai uma turma de jovens. Começam a tirar do porta-malas cestas com mantimentos, armam as tendas, acendem a fogueira. Churrasco, música, fotos… De manhã eles vão embora. Animais, pássaros e insetos da floresta, que assistiram horrorizados àquele evento noturno, saem de seus esconderijos. E o que eles encontram? Manchas do óleo que pingou do radiador, uma lata com um pouco de gasolina, velas e filtros usados. Do lado, estão jogados os panos sujos de óleo, as lâmpadas queimadas, uma chave de fenda que alguém esqueceu na grama. Nos rastros deixados pelo carro sobrou um pouco de lama que veio grudada de algum brejo no caminho… E, claro, há cinzas de fogueira, restos de comida, embalagens de chocolate, latas e garrafas de bebida, guardanapos amassados, bitucas, um lenço perdido, um velho jornal rasgado, um canivete de bolso derrubado por alguém, moedas, flores murchas do campo vizinho…"
A premissa do romance é que a Terra foi visitada por alienígenas em vários pontos ao redor do globo. Esta visitação não foi notada pelos humanos na época. Essencialmente, o que aconteceu foi que algumas inteligências superiores chegaram à Terra, ocuparam alguns espaços chamadas “zonas” por um curto período e depois partiram. Mas eles deixaram para trás inúmeros "artefatos" misteriosos, sobre os quais os humanos sabem pouco ou nada.



Trinta anos após o evento, uma burocracia central criou o Instituto Internacional de Culturas Extraterrestres no local de uma dessas visitas em Harmont, no Canadá. Lá, cientistas e suas forças policiais locais e de segurança da ONU competem com aventureiros independentes pelos artefatos alienígenas abandonados. O processo de recuperação apresenta muitos perigos, uma vez que os homens têm que entrar no terreno mortal da Zona.

Esses estranhos artefatos deixados nas zonas de visitação possuem propriedades que estão principalmente além da compreensão humana. Alguns deles criam poderosos campos gravitacionais. Alguns parecem ter o poder de melhorar a saúde. Alguns dos artefatos alienígenas têm funções totalmente desconhecidas. A maioria deles é perigosa. Ninguém tem certeza, e a aquisição desses objetos foi proibida pelos governos. As pessoas que viviam nas “zonas” durante a visitação sofrem de problemas de saúde, como defeitos congênitos e insanidade, assim como as pessoas que tentam visitar as zonas com muita frequência. O acesso dentro deles foi estritamente limitado pelas autoridades.

Mas a curiosidade humana é inevitável, as pessoas querem adquirir tais coisas. Um comércio ilícito se desenvolveu no tráfico desses artefatos alienígenas. Ladrões ousados chamados de “stalkers” entram nas zonas proibidas para adquirir os valiosos artefatos, que então serão vendidos no mercado negro.

O protagonista da história é Redrick "Red" Schuhart, um stalker veterano que fez dezenas de viagens bem sucedidas para a Zona e pegou artefatos para sustentar a si mesmo e a sua namorada. Essa existência é bastante precária, então ele também trabalha como assistente em um laboratório que estuda a Zona. Em busca de uma vida melhor, ele é atraído na busca pela lendária Esfera Dourada e sua capacidade de conceder qualquer desejo, e a última e desesperada esperança de Red é uma espécie de argumento de que a humanidade continuará a avançar contra a indiferença do universo.
"Com a Zona é assim: voltou com mercadoria, milagre; voltou vivo, sorte; foi ferido à bala pela patrulha, que bênção; e o resto é destino…"
"...Nós não vamos conseguir nada! Não vamos conseguir segurar, nem sequer parar essa onda! Não há força capaz de conter uma inundação, compreendeu, apavorado. E não porque trabalhamos mal ou porque o inimigo seja mais hábil ou mais esperto. Não. É porque o mundo é assim. O ser humano é assim! É da natureza humana. Se não fosse a Visitação, seria outra coisa qualquer. O porco sempre achará lama para chafurdar…"

Os irmãos Arkádi e Boris Strugátski são não apenas os escritores de ficção científica mais famosos da Rússia, como também os únicos autores de ficção científica soviéticos reconhecidos como clássicos no gênero em todo o mundo, tendo seus livros traduzidos para mais de 30 idiomas. Eles não eram muito bem vistos na Rússia na época por conta de crítica social em seus livros. A maioria de seus trabalhos sofreram censuras do governo, inclusive Piquenique na Estrada. 

Falando de adaptações, tem um filme, e dois jogos que foram inspitados no livro. Stalker, é o filme inspirado pelo livro e este foi dirigido pelo cineasta russo Andrei Tarkovski. O roteiro foi feito pelos próprios irmãos Strugátski, mas fizeram muitas modificações em relação ao livro. Sobre os jogos, Metro 2033 e S.T.A.L.K.E.R são inspirados no livro. O jogo S.T.A.L.K.E.R tem algumas pequenas diferenças com relação ao livro e ao filme, as Zonas de Exclusão seriam decorrentes do acidente nuclear de Chernobil, e dentro delas estranhos fenômenos ocorrem. 



Estou encantada com a edição da editora Aleph, em capa dura, com prefácio de Ursula K. Le Guin, um posfácio por Boris Strugátski, onde Boris explica o processo de publicação do livro, com os sucessivos cortes e censuras impostos pelos órgãos burocráticos do governo russo. Essa edição apresenta o livro na integra, e traduzido direto do russo. Espero que a editora publiquem outros livros dos irmãos Strugátski. 

O título do romance é uma referência a uma analogia destinada a conceituar a visitação alienígena. Devemos imaginar um grupo de pessoas fazendo um piquenique em um campo ao lado da estrada. Essas pessoas podem deixar para trás várias coisas, como abridores de latas, relógios e coisas do gênero. Depois que essa “visitação” terminou, as formigas e outros insetos que inspecionavam os resíduos da visita não tinham ideia da função dos objetos que descobriram. Esta é a origem da analogia de “Piquenique na estrada”. Da mesma forma que não prestamos atenção a gafanhotos ou formigas num piquenique, os alienígenas avançados que visitaram a Terra em várias “zonas” não prestaram atenção a nós. Nós estávamos abaixo de seu desprezo. É uma premissa perturbadora, mas também brilhante. Recomendo esse livro a todos!




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