31.7.17

[Resenha #1274] Dias na Birmânia - George Orwell @cialetras


Dias na Birmânia
George Orwell
ISBN-13: 9788535911534
ISBN-10: 8535911537
Ano: 2008
Páginas: 360
Editora: Companhia das Letras
Classificação: 4 estrelas
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Sinopse: John Flory não esconde sua impaciência para com a vida de madeireiro na Birmânia (atual Mianmar) dos anos 1920, quando o remoto país asiático era uma colônia britânica. No clube de brancos racistas e bêbados que freqüenta, Flory é considerado um bolchevique por ser amigo dos “negros”, isto é, os nativos do lugar. “Expressar-se livremente é impensável”, diz Flory, sobre a miserável existência na colônia.“Você é livre para virar um bêbado,ocioso, covarde, maledicente, fornicador; mas não é livre para pensar por si mesmo.” Apesar de não esconder sua estreita amizade com o médico local,um indiano honesto e dedicado, Flory demonstra relutância em defendê-lo abertamente, junto aos membros do clube europeu, contra as calúnias de U Po Kyin,magistrado nativo corrupto e ambicioso. A chegada de Elizabeth, uma jovem inglesa casadoira, faz o calejado administrador enxergar sua única chance de construir uma vida digna e feliz. Mas o angustiado Flory, um dos mais complexos e apaixonantes personagens modelados pelo gênio de George Orwell, parece não ter o poder de mudar o rumo dos acontecimentos.




Resenha:

John Flory vive uma vida tediosa em meio a um país asiático pertencente a uma colônia britânica. Tentando equilibrar sua participação em um clube de homens brancos racistas e sua amizade com o dr. Veraswami, o médico local, Flory precisa ouvir seus companheiros falarem atrocidades sobre os negros, inclusive sobre seu amigo.

John visita o médico após as manhãs no clube e desabafa sobre os comentários maldosos de Ellis, as piadas de Westfield e a passividade de Macgregor. É fácil sentir o desconforto de Flory em seus encontros do clube, o calor insuportável, o cheiro de cerveja e suor, o descontentamento com os comentários de seus companheiros e a falta de coragem de defender seu amigo negro. Também é muito palpável o alivio que o mesmo sente quando se encontra com Veraswami e pode, enfim, expressar suas reais opiniões.




Preso à sua cor, assim como os negros, Flory tem um olhar crítico e sente o fardo de ser um homem branco. Enquanto isso, Veraswami é grato por tudo o que os britânicos trouxeram ao país. Ambos possuem um olhar muito diferente em relação às mudanças proporcionadas pelos britânicos e isso é um dos pontos fortes do livro.

Em meio a uma situação difícil, o dr. Veraswami precisa conseguir entrar para o Clube Europeu do qual John faz parte. Flory sabe que isso é quase impossível, mas, mesmo assim, sente-se mal por ver seu único verdadeiro amigo em uma situação como essa e sendo impedido de entrar para o Clube apenas por ser negro.

“Meu Deus, eu achava que num caso como esse, de negar a permissão para que esses porcos escuros e fedorentos entrem no único lugar onde ainda podemos ficar à vontade, você teria a decência de me dar o devido apoio. Mesmo que o doutorzinho seboso e pançudo seja o seu melhor amiguinho. Não ligo a mínima se você prefere a companhia da ralé do bazar. Se você gosta de freqüentar a casa de Veraswami e beber uísque com a negralhada, o problema é seu. Fora do Clube você pode fazer o que quiser. Mas, meu Deus, é uma coisa muito diferente quando começam a falar que vamos ter de deixar os negros entrarem aqui.” p. 31

O livro segue discorrendo sobre a vida de Flory em meio a essas e outras questões. O embate entre ajudar seu amigo ou continuar tendo um relacionamento “tranquilo” com seus companheiros do Clube ganha espaço e causa certo incômodo no leitor. No entanto, a introdução de uma nova personagem, Elizabeth, trás novos ares para a história e novas questões para serem trabalhadas por John.


Orwell possui certo carisma por personagens que percebem as injustiças, mas que se sentem impotentes e fracos demais para tomar qualquer atitude. Por isso, muitas vezes, os livros do autor giram em torno do crescimento pessoal dos protagonistas. Aqui não é diferente.

É claro que não se pode comparar Dias na Birmânia, um dos primeiros livros de Orwell, com 1984, que é um clássico. Porém, apesar disso, Dias na Birmânia propõe discussões muito interessantes e nos deixa com aquela sensação de revolta por conta da alta carga de racismo presente na história.


O desenvolvimento do livro é bem lento e, por vezes, parece mais uma história sobre uma vida quase comum e com poucos atrativos de um homem que muito questiona a sociedade em que vive.

A edição segue o mesmo padrão dos outros livros do autor publicados pela Editora Companhia das Letras e, apesar de eu não gostar nem um pouco das capas, as edições estão muito caprichadas. 

Um comentário

  1. Parece-me que George Orwell, assim como em outros de seus livros quer passar a ideia que não vale a pena lutar por mudanças, pois quem luta se fode. Por isso ele parece ser um autor venerado pelos regimes capitalistas e imperialistas.

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