A Sétima Cela
Atrás das grades. Para a sua diversão.
A Cela # 1
Kerry Drewery
ISBN-13: 9788582462652
ISBN-10: 8582462654
Ano: 2016
Páginas: 316
Idioma: português
Editora: Astral Cultural
Skoob
Classificação: 4 estrelas
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Sinopse: Martha Heneydew é a primeira adolescente a ser presa e condenada no novo sistema de justiça da Inglaterra. A polícia a encontrou ao lado do corpo de Jackson Paige, filantropo, milionário e uma das celebridades mais queridas do país.Nesse novo sistema de justiça, o condenado tem sete dias - cada dia em uma cela diferente - para ter seu destino determinado pelos votos dos telespectadores. Se a audiência do programa de TV "Morte é Justiça" decidir pela inocência do preso, ele será solto. Caso contrário, será morto na cadeira elétrica. Porém, algumas peças não se encaixam na história que Martha conta para a justiça. Ela se declara culpada, mas há algo por trás da cena do crime que os telespectadores ainda não sabem.Com a ajuda da consultora psicológica, Eve Stanton, de um juiz do antigo sistema jurídico, Cícero, e do seu grande amor, os sete dias que precedem sua execução serão de muita intensidade, sofrimento, descobertas inesperadas e reviravoltas de perder o fôlego. Quem é, de verdade, Jackson Paige? Martha Heneydew é realmente culpada? Será que esse sistema jurídico é justo?Nesta distopia eletrizante, todas essas questões nos fazem refletir sobre o poder do dinheiro que, muitas vezes, prevalece sobre a justiça. E Martha, uma adolescente forte e destemida, mostra sua crença em uma sociedade verdadeiramente justa, na força da amizade e do amor. Mesmo que isso possa significar sua própria vida.
Resenha:
Se você gosta da franquia americana de filmes The Purge (Uma Noite de Crime) e do episódio White Bear, da série britânica Black Mirror, pode ter certeza que o livro A Sétima Cela foi escrito para você. Os três são distopias, que contam histórias futuristas envolvendo o ser humano, a mídia, o entretenimento, o governo, e uma tentativa injusta de diminuir a criminalidade.
A Sétima Cela acontece em uma Londres totalmente diferente do que estamos acostumados, em que a sociedade é dividida em três categorias: os Arranha-Céus (a parte mais pobre da capital), as Cidades e as Avenidas (as partes mais ricas). Visando trazer justiça, o país implanta um sistema democrático chamado Votos para Todos, em que o telespectador decide o destino do acusado. Nesse sistema, existe a Lei dos Sete Dias de Justiça, em que o acusado deve permanecer sete dias em sete diferentes celas esperando para enfrentar a pena de morte... sendo que público decide votando em sites, fazendo ligações ou mandando mensagens de texto. Se não bastasse isso, a mídia faz uma cobertura exaustiva de todos os casos, com a transmissão de informações 24 horas por dia em portais na Internet e programas televisionados, tudo para ajudar o telespectador a decidir a sentença do acusado.
“As pessoas não questionam. Isso dá trabalho demais. Por que se incomodariam com isso?” – Página 47E é nesse contexto que conhecemos a nossa personagem principal, Martha Honeydew. Ela é uma moradora dos Arranha-Céus, tem apenas 16 anos, perdeu a mãe em um acidente de carro, e foi encontrada na cena de um crime. Supostamente, ela matou Jackson Paige, um milionário influente, filantropo, caridoso e muito importante para essa Londres futurista. Martha admitiu ter assassinado esse homem em alto e bom som, foi encontrada pela polícia com as mãos na arma e foi levada de livre e espontânea vontade para a Cela 1 do sistema.
“Eles têm o poder sobre a minha vida, a responsabilidade de fazer a coisa certa. Nós tínhamos a responsabilidade naquela noite, mas, mesmo assim, era a primeira vez em que o poder estava a nosso favor” – Página 218A história de Martha não convence outros personagens. Enquanto o programa de televisão Morte é Justiça, do Olho Por Olho Produções, enfatiza o crime cometido, manipulando com imagens e diálogos toda a audiência para que Martha seja declarada culpada, existem pessoas que realmente acreditam em sua inocência, no sistema falho de justiça, na verdadeira forma de construir uma sociedade. Entre elas, encontramos a psicóloga Eve, o ex-juiz Cícero e muitos outros personagens que querem apenas a verdade.
“Homens fracos usam armas. Pensar dá mais trabalho do que puxar um gatilho” – Página 243Martha é o martír necessário nas distopias. Não apenas ela, mas muitos moradores dos Arranha-Céus e pessoas com bom senso querem derrubar esse sistema. Sua prisão foi o estopim para algo muito maior que deve ser abordado nos dois livros seguintes. Mesmo presa e com quase nenhum contato com o mundo externo, suas lembranças, a forma como ela lidar com a dor, e a esperança de um mundo melhor, constroem sua personalidade e a torna uma heroína.
“A justiça, aqui, é uma ligação telefônica. Acham que é fácil? Não se você não puder pagar por ela. Fácil de alterar e de manipular. Não é um sistema justo” – Página 297Essa rebelião contra o sistema acontece porque ele é falho. Apesar das estatísticas do crime apontarem uma diminuição em dez anos da implantação do sistema (ninguém quer provar das Sete Celas), as pessoas votam quantas vezes quiserem para o culpado ficar livre ou experimentar a cadeira elétrica, e não existe mais os tribunais, júris, testemunhas, checagem de informações e provas. Além disso, todas as ligações, votos por sites e SMS, são cobrados. As pessoas dos Arranha-Céus não têm condições de pagar muitas libras para votar, o que dá sempre vitória para os moradores das Avenidas e Cidades. Antes de entrarem nas celas, os criminosos assinam um contrato que tira todos os direitos deles perante o sistema e, quando já estão nas celas, ainda sofrem com alucinações propositais proporcionadas por um gás, agressões físicas e verbais dos policiais, e a incessante cobertura da mídia.
Eu sou apaixonada por distopias e fiquei muito feliz em saber que outra trilogia nesse estilo estava sendo lançada pela Editora Astral Cultural. Esqueça os capítulos, o livro todo é dividido em Sete Celas, que correspondem a cada dia que Martha passa em uma cela diferente do sistema Voto para Todos. Dentro de cada “cela”, temos o ponto de vista de diferentes personagens, como Martha e Eve, além da transcrição dos programas de televisão que discutem o caso. Gostei bastante da forma objetiva que a autora escreve, principalmente quando ela intercala a primeira e a terceira pessoa, o que fez com que eu lesse todo o livro em menos de dois dias.
Apesar de não entregar muitas características físicas dos personagens e não se aprofundar muito neles, os diálogos, as ações e os objetivos de cada um são bem claros, o que torna eles muito reais. Todos os personagens, repito, todos os personagens são importantes para a narrativa, construídos de pouquinho em pouquinho e crescendo em cada página.
Mesmo sendo jornalista, tenho que aplaudir a forma como a autora trouxe a mídia numa Londres futurista. Vivemos um jornalismo parcial, e a mídia retratada no livro é a principal culpada do sistema das Celas estar corrompido. Ela e o governo britânico apenas querem poder, não se preocupam com a vida humana e abusam da capacidade de informação que possuem. Os telespectadores não se questionam, absorvem tudo o que a mídia entrega para eles, fecham os olhos para a realidade e também se tornam parte do problema.
Recomendo A Sétima Cela para todos os leitores que gostam de distopias e que também curtam saborear discussões sobre justiça. Kerry Drewery fez um ótimo trabalho de pesquisa e traz para gente uma história instigante, personagens muito bem construídos e lições sobre ética e moral em uma sociedade não tão diferente da nossa.
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