22.3.18

[Resenha #1592] Sorrisos Quebrados - Sofia Silva @EdValentina


Sorrisos Quebrados
É na escuridão que brilha o amor verdadeiro
Série Quebrados # 1
Sofia Silva
ISBN-13: 9788558890458
ISBN-10: 8558890455
Ano: 2017
Páginas: 232
Idioma: português 
Editora: ValentinaClassificação: 5 estrelas
Compre: Amazon
SINOPSE: Sorrisos Quebrados gira em torno de três personagens: a jovem Paola, a pequena Sol e seu pai, André. Os três são vítimas de violências distintas, que deixaram marcas profundas em cada um. Trata-se de uma história de superação de dores, magia, estrelas e de como importantes laços humanos podem se formar a partir da autoaceitação, da arte e da tolerância no cotidiano.



Resenha: 

O livro Sorrisos Quebrados, da autora portuguesa Sofia Silva, traz a cativante construção de um amor que precisa diariamente enfrentar barreiras psicológicas, verbais e físicas. Aos olhos das outras pessoas, Paola tinha tudo o que sempre quis: dinheiro, um sorriso singular e o marido dos sonhos. 



Infelizmente, ela estava vivendo um relacionamento abusivo. Roberto a escolheu, mas ela não teve sorte. Paola tinha medo de falar em um tom de voz que o desagradasse; medo de se vestir de forma inapropriada; medo de agir em desacordo com o que ele pedia; e medo de até mesmo respirar muito forte. Um dia, decidida a fugir de todas as agressões, ela tenta partir em busca de sua própria felicidade, mas é encontrada por Roberto. 
“Meu reflexo surge no espelho como se o vidro estivesse quebrado, e não eu. Se não consigo ver beleza em mim, quem verá?” (pág. 20)

“Às vezes, encontramos conforto no lugar que um dia tememos.” (pág. 24)

“Tirando meu cirurgião plástico, mais ninguém fica parado olhando as cicatrizes. E o cirurgião quer ver o que pode melhorar; André tenta perceber como sou.” (pág. 36)

“Às vezes, precisamos olhar para as pessoas com o coração e não com os olhos, pois só assim nós vemos quem realmente são.” (pág. 44)

“André está numa categoria própria. Ele é aquele pai que morreria mil mortes dolorosas todas as manhãs se soubesse que a filha seria feliz por alguns minutos.”  (pág. 49)

Anos se passam e, com marcas no corpo e na mente, Paola escolhe viver na Clínica, um lugar no interior de São Paulo que tenta ajudá-la a se encontrar novamente. Apesar de todas as cores que ela usa para pintar o passado e os registros da existência de Roberto em sua vida, os dias continuam sendo difíceis. Mas, a chegada de Sol traz um pouco de alegria para um sorriso enferrujado. Junto com a criança, Paola conhece André. Mesmo com a aparência de urso, André se mostra apenas um homem com seus próprios demônios. Juntos, eles tentam reconstruir as ruínas de suas vidas e cicatrizar feridas que já estão há muito tempo abertas. 



“Ele é alguém que não se preocupa com a aparência porque é mais do que um corpo.” (pág. 53)

“André tem os olhos entre o cinzento de uma manhã de nevoeiro que esconde segredos e o mar profundo de onde podem surgir coisas que desconhecemos. Ele é a tormenta e a calmaria. O rochedo que protege contra a força das ondas e a areia que voa com uma simples brisa.” (pág. 53)

“Nossas expressões podem não ser verdadeiras. Um sorriso pode esconder tristeza ou falsidade. Podemos aparentar apatia, quando, por dentro, estamos vivenciando todos os sentimentos com intensidade, ou fingir tristeza quando é mentira.” (pág. 54)

“Nossa imaginação consegue construir o que os olhos não enxergam.” (pág. 70)

“A ideia de que durante o dia nunca nada de mau acontece, pois os vilões só saem quando o sol se põe, é a mais vil das mentiras.” (pág. 71)

“A verdade reluz, mas durante o dia seu brilho não é forte o suficiente para fazer as pessoas olharem para ela. É na penumbra que a verdade é soberana. E mesmo quem não quer ver é obrigado, pois é a única que brilha.” (pág. 73)

“(...) a beleza é efêmera, mas quem somos no nosso interior é eterno.” (pág. 78)

O livro é dividido em quatro lindas partes (Dolorosamente Colorida, Surpreendentemente Brilhante, Tristemente Escuro e Repintados) e traz as perspectivas de André e Paola. Antes de começar a leitura, eu havia pesquisado um pouco sobre a história do livro, e na minha cabeça era apenas mais um romance entre duas pessoas que precisavam uma da outra, mas me deparei com algo bem mais profundo, sensível e quase inexplicável. 

“Eu sei o que é termos medo de mostrar quem somos porque as pessoas são más.” (pág. 93)

“(...) somos duas almas perdidas que se encontraram, mas que receiam ser mais uma miragem no deserto triste que tem sido nossa caminhada.” (pág. 94)

“Somos como plantas: sem afeto murchamos, e o que havia de bonito em nós seca.” (pág. 101)

“Eu acredito que sou um quadro abandonado por alguém que nunca desejou ser pintor. Alguém me pegou quando eu era uma tela branca e, em vez de me pintar com a suavidade dos pincéis, me feriu com o lado pontiagudo. Perfurou vezes sem conta até eu ter um buraco grande em vez de uma obra de arte.” (pág. 104)

“Como é possível sentirmos leveza quando o peso do mundo tem sido carregado por nós?” (pág. 107)

“(...) se alguém nos tirar algo, não poderemos esperar que nos devolvam. Vamos ter de correr atrás para recuperar.” (pág. 126)

“A vida não deve ser medida por “mais um dia”. Não. Ela é feita por pequenos e efêmeros momentos que mudam tudo.” (pág. 127)

“A vida é um labirinto onde todos tentamos localizar a saída e onde poucos têm a sorte de encontrar o parceiro ideal para a aventura que é viver. Alguém que não solta a nossa mão quando erramos na escolha do caminho ou porque não temos mesmo vontade de acertar, pois percebemos que mais importante do que localizar a saída é conhecer o labirinto.” (pág. 131)

“Nunca me senti tão livre por estar presa a alguém.” (pág.137)

“Não interessa o quão velho estamos, o carinho de quem nos ama é sempre um bálsamo vital.” (pág.141)

“Como posso tocar as estrelas se estou novamente caindo?” (pág. 162)

“E essa é a pior sensação. Saber que outra pessoa sofre por nossa culpa.” (pág. 169)

“Paola, talvez, em algumas circunstâncias, o dinheiro que temos seja tudo o que valemos aos olhos dos outros.” (pág. 177)
Acredito que isso aconteceu por conta da escrita da autora. Ela criou uma forma poética de lidar com seus personagens. Em muitos diálogos e descrições, a gente encontra uma ou duas frases que realmente tocam a alma. Pela primeira vez em muito tempo, encontrei um romance literário poético moldado por cores e cicatrizes. Com toda a sinceridade que consigo colocar em palavras, eu quis que os personagens fossem felizes.  
“Não vivo somente dentro de uma muralha alta demais, com pedras pesadas demais. Não. Eu vivo num lugar que é isso tudo e muito mais. É uma ilha cercada por uma vastidão de espinhos grande e afiados, situada sobre um vulcão.” (pág. 200)

“Admiro sua beleza exterior, percebendo que nunca foi essencial porque, se André é o homem mais lindo que eu já vi, essa beleza evapora com tudo o que sei sobre ele. Para mim ele é perfeito pelo simples fato de não o ser.” (pág. 214)

“Intimidade é quando o casal não precisa falar, porque o outro consegue ter os lábios que não se movem, escutar a alma que grita e ver o amor invisível.” (pág. 216)

“Paola é a flor que nasce no concreto. Aquela que foi pisada porque cresceu num lugar onde ninguém parou para contemplar a sua beleza, mas que, depois de estar quebrada, comentavam como era frágil, e por isso não aguentou a dura realidade. Idiota que não perceberam que, além de ter sobrevivido, ela continua trazendo beleza aonde falta.” (pág. 221)

“Na simplicidade da nossa relação, nascem os momentos mais ricos que conheci.” (pág. 231)

“Nossos risos quebrados que se encaixam perfeitamente.” (pág. 232)

“Com ele percebi que é na escuridão que brilha o amor verdadeiro, que as palavras verdadeiras reluzem, e sei que as dele nunca perderão a intensidade.” (pág. 236)

“Juntos descobrimos que os sorrisos mais lindos então escondidos nos rostos mais tristes.” (pág. 237)

“Flutuando entre estrelas, não tenho mais medo de cair no abismo, pois ela nunca largará a minha mão...e eu nunca mais irei parar de saltar por ela.” (pág. 237)
Por outro lado, a autora não coloca uma máscara e pinta de arco-íris a realidade que assombra muitas mulheres pelo mundo: a violência doméstica e o relacionamento abusivo. Ela não tem piedade dos leitores, da mesma forma que os agressores não têm piedade das vítimas. Um exemplo disso foi o soco na cara que levei ao ler o prólogo, a escolha de palavras e frases curtas tornaram a violência sofrida por Paola em um pesadelo vivido. 


Preciso também comentar sobre uma coisa que gostei muito. Ficamos na dúvida sobre o que aconteceu com Roberto, o que causou todos os problemas da doce Sol e o motivo de André estar rodeado de demônios. A autora responde essas perguntas ainda na metade do livro, o que causou várias sensações de surpresa ao longo da leitura. E, depois de estar a par de tudo o que aconteceu no passado de André e Paola, acontecem flashbacks de alguns momentos deles com seus respectivos medos. Isso faz com que a gente entenda muito mais o que cada um sofreu. 

Sorrisos Quebrados não é um livro de poesias, mas traz toda a essência desse gênero. Recomento fortemente para todos os leitores que querem encontrar personagens bem construídos, uma história de amor envolvente e muitas frases lindas para guardar no coração. 




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