29.3.18

[Resenha #1593] Dumplin - Julie Murphy @andimJULIE @EdValentina


Dumplin'
Cresça e apareça. Faça e aconteça!
Dumplin' # 1
Julie Murphy
ISBN-13: 9788558890311
ISBN-10: 8558890315
Ano: 2017
Páginas: 336
Idioma: português 
Editora: Valentina
Skoob
Classificação: 5 estrelas
Compre: Amazon
Sinopse: Especialmente para os fãs de John Green e Rainbow Rowell, apresentamos uma destemida heroína e sua inesquecível história sobre empoderamento feminino, bullying, relação mãe e filha, e a busca da autoaceitação. Sob um céu estrelado e ao som de Dolly Parton, questões como o primeiro beijo, a melhor amiga, a perda de alguém que amamos demais e “estou acima do peso e ninguém tem nada com isso” fazem de Dumplin’ um sucesso que mexerá com o seu coração. Para sempre. Gorda assumida, Willowdean Dickson (apelidada de Dumplin’ pela mãe, uma ex-miss) convive bem com o próprio corpo. Na companhia da melhor amiga, Ellen, uma beldade tipicamente americana, as coisas sempre deram certo... até Will arrumar um emprego numa lanchonete de fast-food. Lá, ela conhece Bo, o Garoto da Escola Particular... e ele é tudo de bom. Will não fica surpresa quando se sente atraída por Bo. Mas leva um tremendo susto quando descobre que a atração é recíproca. Ao contrário do que se imaginava – a relação com Bo aumentaria ainda mais a sua autoestima –, Will começa a duvidar de si mesma e temer a reação dos colegas da escola. É então que decide recuperar a autoconfiança fazendo a coisa mais surreal que consegue imaginar: inscreve-se no Concurso Miss Jovem Flor do Texas – junto com três amigas totalmente fora do padrão –, para mostrar ao mundo que merece pisar naquele palco tanto quanto qualquer magricela.



Resenha:

Se você gosta da cantora Dolly Parton, da série My Mad Fat Diary (2013-2015) e da ambientação do filme Pequena Miss Sunshine (2006), então o livro Dumplin’, da autora Julie Murphy, foi escrito especialmente para você. 

A história nos leva para uma pequena cidade texana chamada Clover City. Por lá, conhecemos a Willowdean Dickson, apelidada carinhosamente pela mãe de Dumplin’. Ela está no Ensino Médio, tem uma melhor amiga com quem pode contar para tudo, está trabalhando para ajudar a manter o seu próprio carro, mas convive todos os dias com os olhares que recebe por conta de seu peso. Sim, ela é uma garota gorda. Sim, ela tem dificuldade para encontrar roupas do seu tamanho. Sim, ela é cheia de celulites. Mas, não, ela não tem obrigação alguma de pedir desculpas pelo corpo que tem. É mais ou menos assim que Will enxerga a si mesma e o mundo ao seu redor.  



“Se pudesse olhar para o lado todas as vezes que vejo um casal se beijando, tenho certeza de que minha vida seria, pelo menos, dois por cento mais feliz.” (pág.10)
“Não gosto de pensar nos meus quadris como um estorvo e sim como um atrativo.” (pág.12)
“Mas essa sou eu. Gorda. Não é nenhum palavrão. Não é nenhum insulto. Pelo menos, não quando eu digo. Por isso, sempre me pergunto: por que não chutar logo de uma vez para longe essa pedra no caminho?” (pág.13)
“O que sinto é que estou presa, esperando que a minha vida aconteça.” (pág.19)
“A realidade do seu corpo não era algo que ela gostasse de ver refletida sob a forma de fotografias.” (pág.21)
“Sei que as garotas gordas deveriam ter alergia a piscinas, mas eu adoro nadar. Não sou boba: sei que as pessoas ficam encarando, mas não podem me culpar por eu querer dar uma refrescada. E por que isso deveria fazer alguma diferença? Por que ter coxas enormes e cheias de celulite me obriga a pedir desculpas à humanidade?” (pág.24)
“Não é que eu não goste de conhecer pessoas. É que geralmente não me sinto à vontade com pessoas que ainda não conheço.” (pág.25)
“(..) se o corpo não é seu, você não tem direito de dizer nada. Seja a pessoa gorda, magra, alta ou baixa, não interessa.” (pág.27)
Tudo estava caminhando razoavelmente bem em sua vida. Ela ainda estava sofrendo com a morte de sua tia Lucy, mas tinha as músicas de Dolly Parton para suprir um pouco da saudade; sua melhor amiga, a Ellen, estava explorando uma nova vida que não condizia muito com a própria Will; e sua mãe estava enlouquecida com a chegada do Concurso Miss Jovem Flor do Texas. As coisas tomaram um rumo diferente quando o seu crush, Bo Larson, que trabalha junto com ela, começou a se interessar por Will. Ao invés de ficar nas alturas com esse acontecimento e se achar a garota mais linda que existe, Will desperta inseguranças que nem mesmo ela sabia que existiam. 
“Não podemos ter coisas maravilhosas o tempo todo (...) Esqueceríamos o quão maravilhosas elas são.” (pág.35)
“Acho que o céu é grande demais para não ser compartilhado.” (pág.36)
“Não sou desse tipo de garota. Não passo horas me olhando no espelho, pensando nas mil e uma maneiras como poderia ficar ainda mais bonita.” (pág.42)
“Não é que eu não tenha autoestima. Sei que mereço o meu final feliz. Mas e se Bo for o ponto alto da minha vida e eu não passar de um tropeço na dele?” (pág.45)
“Talvez porque nem sempre seja preciso vencer um concurso para se pôr uma coroa na cabeça.” (pág.48)
“Nossa relação é como um passeio de montanha-russa. Os freios podem estar quebrados e os trilhos em chamas, mas não consigo escapar do carrinho.” (pág.52)
“Detesto ver gordas na tevê ou no cinema, porque parece que o único jeito de o mundo aceitar um gordo é se ele estiver infeliz com o próprio peso ou se for o melhor amigo piadista. E eu não sou nenhuma das duas coisas.” (pág.62)
Os personagens são muito carismáticos e cheios de personalidade. Todos que aparecem possuem sua importância para a história, e isso é muito legal de ser notado. A ambientação de cidadezinha sulista do Texas, que a autora traz para as páginas, é sensacional. Em muitos momentos, fiquei com vontade de tomar chá gelado por conta do calor que é descrito no livro. Aliás, a paixão da Will pela Dolly Parton está impregnada em quase todas as situações. Em virtude disso, posso dizer que a leitura por inteira é bem imersiva, e você com certeza vai ficar com vontade de visitar algum lugar do Texas que esteja apresentando um concurso de misses, ou ouvir os últimos lançamentos da Dolly Parton nos serviços de streaming.  
“Quando a gente conhece alguém há muito tempo, não vê as mesmas coisas na pessoa que os outros veem. Mas quando a amizade se baseia em quem vocês foram e não em quem são, é difícil não procurar o fio comum que os une.” (pág.81)
“Um homem não vai resolver os meus problemas.” (pág. 90)
“(...) as boas amizades são duradouras. Elas têm que sobreviver aos vãos, às fendas e às dificuldades da adolescência.” (pág.131)
“A sensação de ver as pessoas irem embora é assustadora.” (pág.174)
“Linda, foi o que ele disse. Gorda, é o que eu penso. Mas será que não posso ser as duas coisas ao mesmo tempo?” (pág.198)
“Não podemos esperar as mesmas coisas que as outras garotas esperam até começarmos a exigi-las.” (pág.202)
Temos apenas o ponto de vista da Will, ou seja, o livro gira em torno de seus medos, inseguranças, amizades e a sua relação com a família. Inconscientemente, a escrita da autora o torna um diário de tudo o que rodeia a nossa personagem principal. E, o mais legal disso tudo, é que ela não é tratada como uma heroína ou a pessoa que apenas produz verdades. Pelo contrário, Will é confiante e corajosa, mas, ao mesmo tempo, é infantil, cabeça dura e medrosa.
“(...) eu não queria ser uma daquelas garotas que se sentem mal em relação a si mesmas por causa de um cara.” (pág.211)
“Há um certo consolo em saber que, para cada pessoa no mundo esperando ser encontrada, há alguém à sua espera.” (pág.214)
“Às vezes, descobrir quem você é implica entender que o ser humano é um mosaico de experiências. Eu sou Dumplin’. Will e Willowdean. Gorda. Feliz. Insegura. Corajosa.” (pág.226)
Com algumas observações que levantei durante a leitura, posso dizer que Will é extremamente contraditória. Em muitos momentos, sentimos raiva de alguns de seus pensamentos e diálogos, mas isso não é algo ruim. É interessante quando não conseguimos comprar e aceitar plenamente aquele personagem que move a história. Por exemplo, toda a enrolação do relacionamento dela com o Bo parte do medo que a Will tem do que as pessoas vão pensar ao ver os dois juntos, e de como ela se sente péssima ao sentir o toque dele em seu corpo. Ok, isso eu até consigo entender. Mas, em diversos momentos do livro, ela fala com exatidão e confiança de que não liga para o que as pessoas pensam com relação a ela. 

Will fala também que se ama apesar de não estar no padrão. Infelizmente, ela expõe esse amor até o momento em que alguém aponta seus defeitos. Aí, ela começa a enxergar tudo de ruim em si mesma. Além disso, Will também fala que não tem autoestima baixa, mas parece que tudo é da boca para fora, como se ela precisasse provar diariamente que não odeia o próprio corpo. É como se quanto mais Will fala isso, mais as chances aumentam dela realmente ter autoestima. 


É claro que toda essa contradição em sua personalidade é compreensível. Ninguém está seguro de não sofrer com inseguranças e questionamentos sobre o próprio corpo. Vivemos em um mundo que gira ao redor de likes, filtros e insensibilidade. Como podemos sobreviver a isso? Falar de padrões é ainda muito necessário, porque eles estão em toda a esquina: o corpo perfeito, os dentes perfeitos, a perfeição em pessoa. Will é uma personagem que é diretamente afetada por isso tudo e conseguimos ter uma visão das lutas que muitas pessoas enfrentam todos os dias contra essa perfeição inexistente. 

Dumplin’ é um livro inspirador e necessário. Apesar da personalidade da nossa personagem principal, ela é igualzinha a muitas pessoas. As imperfeições perfeitas da Will vão fazer com que você reveja algumas situações da sua própria vida e aprenda um pouquinho a lidar com o ser humano.  



Nenhum comentário

Postar um comentário

© BLOG ROTINA AGRIDOCE- TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | Design e Programação por MK DESIGNER E LAYOUTS