3.6.18

[Resenha #1628] Aos Perdidos, Com Amor - Brigid Kemmerer @BrigidKemmerer @plataforma21_


Aos Perdidos, Com Amor
Cartas, segredos e um encontro arrebatador
Brigid Kemmerer
ISBN-13: 9788592783358
ISBN-10: 8592783356
Ano: 2017
Páginas: 430
Idioma: Português
Editora: Plataforma21
Classificação: 5 estrelas
Skoob
Compre: Amazon
SINOPSE: Juliet Young sempre escreveu cartas para sua mãe. Mesmo depois da morte dela, continua escrevendo – e as deixa no cemitério. É a única coisa que tem ajudado a jovem a não se perder de si mesma. Já Declan Murphy é o típico rebelde. O cara da escola de quem sempre desconfiam que fará algo errado, ou até ilegal. O que poucos sabem é que, apesar da aparência durona, ele se sente perdido. Enquanto cumpre pena prestando serviço comunitário no cemitério local, vive assombrado por fantasmas do passado. Um dia, Declan encontra uma carta anônima em um túmulo e reconhece a dor presente nela. Assim, começa a se corresponder com uma desconhecida... exceto por um detalhe: Juliet e Declan não são completos desconhecidos um do outro. Eles estudam na mesma escola, porém são tão diferentes que sempre se repeliram. E agora, sem saber, trocam os segredos mais íntimos. Mas, aos poucos, a vida real começa a interferir no universo particular das confidências. E isso pode separá-los ou uni-los para sempre. Entre cartas, e-mails e relatos, Brigid Kemmerer constrói uma trama intensa, repleta de descobertas e narrada sob o ponto de vista dos dois personagens. Uma história de amor moderna de arrebatar o coração.



RESENHA: 

Em Aos Perdidos, Com Amor, da autora Brigid Kemmerer, somos transportados para Annapolis, em Maryland (Estados Unidos), um lugar que abriga muitas almas perdidas e desoladas. Juliet Young é uma delas. Sua mãe era uma fotojornalista famosa por transparecer verdade em suas imagens. Ela viajava muito para outros países com a intenção de documentar a fome, a miséria e as consequências da guerra. Por conta da distância, mãe e filha não tinham muito tempo juntas, mas gostavam de se comunicar por meio de cartas. Juliet escrevia contando sua rotina na escola e o seu bom desempenho nas aulas de fotografia, e a mãe escrevia sobre as descobertas de seu trabalho. Infelizmente, ela morreu em um acidente de carro quando estava saindo do aeroporto a caminho de casa. Desde então, Juliet não parou de escrever cartas para a mãe. Só que agora elas eram deixadas em um túmulo no cemitério. 



“Eu falo que não ligo para o que as pessoas pensam de mim, mas é mentira.” (pág. 12)
“Minha mãe costumava dizer que as palavras carregam sempre um pouco do espírito de quem as escreveu, e quase consigo senti-lo escorrendo da página.” (pág. 16)
“Desde que ela morreu, já lhe escrevi 29 cartas. Duas por semana.” (pág. 20)
“Quem é que escreve para um desconhecido aleatório em um cemitério?” (pág. 24)
“O silêncio machuca os meus ouvidos e me dá tempo demais para pensar.” (pág. 29)
“(...) há certa segurança em escrever para alguém completamente desconhecido.” (pág. 53)
“As palavras que usamos para nos referirmos à morte são estranhas.” (pág. 54)
“Eu devia pedir desculpas, mas as palavras não vêm. É como se você pedisse perdão por ter se zangado com alguém que enfiou uma estaca no seu peito.” (pág. 63)
Outra alma perdida é Declan Murphy. Ele aparenta ser o típico garoto problemático da escola, aquele excluído com uma ficha de antecedentes criminais. Mas as aparências enganam e escondem muitos traumas. Por exemplo, seu pai está na cadeia porque é o culpado pela morte de Kerry, sua irmã mais nova. Ainda, a mãe casou com um homem que o trata como se fosse uma pessoa descartável, um peso que precisa carregar nos ombros para estar ao lado da mulher que ama. Por conta de um momento de raiva, consequência de uma mudança drástica em sua vida, Declan foi obrigado a prestar serviço comunitário no cemitério de Annapolis. 
“Às vezes acho que o destino conspira contra nós. Ou talvez o destino conspire conosco.” (pág. 71)
“Dizem que perder um membro da família é como perder um membro do corpo. Quando ela morreu, foi como se eu tivesse perdido metade de mim. Sinto falta dela, mas sei que ela nunca vai voltar. Isso não tem volta.” (pág. 88)
“Soltar um palavrão não faz de mim um idiota, assim como usar uma palavra difícil não faz de ninguém uma pessoa inteligente.” (pág. 89)
“Quando tudo ao seu redor está perdido, só há um caminho a seguir: para a frente.” (pág. 89)
“(...) às vezes você chega a um pouco em que dói demais, tanto que você quer fazer qualquer coisa para se livrar da dor. Mesmo que essa coisa venha a machucar outra pessoa.” (pág. 140)
“(...) O jeito como você contou a história certa no momento em que eu estava desesperada para ouvi-la.” (pág. 159)
“Se não posso culpar o destino, quem é que sobra?” (pág. 160)
“Ninguém deveria ter que discutir existencialismo antes da sete da manhã.” (pág. 173)
Num dia, ele encontra uma das cartas de Juliet. Deixando de lado a consciência que o incentivava a fazer o contrário, Declan lê o conteúdo daquela mensagem e, como se um amigo o estivesse abraçando, ele entende de imediato todos os sentimentos que foram expostos. Com relutância, ele responde. E, para a sua surpresa, alguns dias depois outra carta endereçada a ele é deixada no túmulo. E é assim que começa a história de dois adolescentes que não se conhecem, mas que começam a se abrir sobre assuntos como a perda e o autoconhecimento. 



“(...) Especialmente porque foi você quem me mostrou que posso ser normal. Pelo menos por um tempinho.” (pág. 207)
“Ele me tira do sério de um jeito, como seu eu tivesse a necessidade de dar uma cutucada nele primeiro, antes que ele possa me esfaquear.” (pág. 218)
“Será que, de certa maneira, todo mundo é um alvo unidimensional?” (pág. 312)
“- Um dia não é a sua vida toda, Murph. – Ele espera até que eu olhe para ele. – Um dia é só um dia.” (pág. 334)
“Você sabe quem eu sou. Me encontre. Me agarre. Me sacuda. Por favor.” (pág. 335)
“Quem sabe o mistério seja parte do que o torna tão diferente. Talvez, se eu o encontrasse, ele seria horrível.” (pág. 370)
“Todo mundo é significativo.” (pág. 386)
“Talvez um dia você ame uma mulher o bastante para que um beijo valha qualquer sacrifício.” (pág. 467)
“Estou acostumado com as pessoas me botando para baixo, não saindo em minha defesa.” (pág. 476)
“Se o destino fosse uma pessoa, eu daria um soco na cara dele.” (pág. 482)
“(...) você vai encontrar o seu próprio jeito de fazer a diferença.” (pág. 553)
“(...) há um limite para o tanto de rejeição que se é capaz de aguentar, até que você finalmente desiste e para de tentar.” (pág. 571)
“Estávamos errados. Você faz o seu próprio caminho.” (pág. 574)
“Sempre haverá o amanhã.” (pág. 612)
O livro intercala a narração em primeira pessoa de Juliet e Declan. A princípio, eles começam com cartas, mas depois passam a se comunicar por e-mails. Juliet orbita um planeta diferente das outras pessoas, inclusive de seu pai e de sua melhor amiga, vive com a própria dor e só se sente minimamente bem quando está escrevendo para a mãe. Declan é a mesma coisa. Ele afasta as pessoas apenas com um olhar, sobrevive confrontando a si próprio e só tem espaço para ser ele mesmo com o melhor amigo. Após as primeiras trocas de confidências e questionamentos, Juliet (Garota do Cemitério) e Declan (Escuridão) tentam mudar alguns comportamentos, principalmente porque começam a sentir a realidade da vida. 

A escrita da autora consegue trazer leveza para temas como suicídio, alcoolismo, morte, traição e violência. Por conta das situações comuns que poderiam acontecer com qualquer leitor, ela consegue criar uma identificação. Esse reconhecimento está além da empatia, já que também nos sentimos próximos aos personagens. Sofremos com os demônios que eles carregam no peito, com a culpa que permeia as suas vidas e com o fato de que não podemos entrar literalmente dentro das páginas para ajudar e falar que vai ficar tudo bem. Meu coração ficou apertado em muitos momentos, especialmente naqueles que mostram o vazio que Juliet e Declan sentem. 

Fazia tempo que eu não encontrava um grupo tão incrível de personagens. Juliet tem do seu lado a melhor amiga, o professor de fotografia e o próprio pai, com quem ela constrói uma nova relação um pouco depois da morte da mãe. Declan, apesar de não perceber, encontra refúgio em Reiv, seu melhor amigo, na professora de inglês e em uma pessoa muito improvável, seu supervisor no serviço comunitário. Todos eles são as âncoras dos protagonistas, que tentam trazê-los para a terra firme a todo o momento, que sabem a hora certa de falar e estão sempre dispostos a ouvir.


Eu tinha em mente que só daria cinco estrelas se o final coincidisse com o que foi apresentado ao longo da trama. A autora construiu tão bem os personagens e o modo como a morte afeta diferentes pessoas, que eu fiquei com medo de que ela finalizasse a história com uma utopia, um “felizes para sempre” que não existe por inteiro na vida real. Pelo contrário, ela nos presentou com um livro completo. O ponto final é o recomeço para os protagonistas e personagens ao redor deles, uma caminhada que está recomeçando, uma nova página a ser escrita para quem pensou em parar de escrever.   


Recomendo este livro para todos os leitores chorões de plantão, aqueles que gostam de um drama adolescente que vai muito além das notas baixas e dos namoros complicados. Prepare a caixa de lenços e não tente segurar as lágrimas, porque esta é uma história sobre como lidar com a dor de perder alguém que ama e, mais do que isso, tentar viver outra vez. Você vai (chorar!) e gostar de acompanhar os desdobramentos dessa troca de cartas e as escolhas que serão tomadas.   




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