3.6.18

[Resenha #1629] Nevernight A sombra do corvo - Jay Kristoff @misterkristoff ‏ @plataforma21_


Nevernight
A sombra do corvo
Crônicas da Quasinoite # 1
Jay Kristoff
ISBN-13: 9788592783242
ISBN-10: 8592783240
Ano: 2017
Páginas: 608
Idioma: Português
Editora: Plataforma21
Classificação: 5 estrelas
Skoob
Compre: Amazon
SINOPSE: Há histórias sobre Mia Corvere, nem todas verdadeiras. Alguns a chamam de Moça Branca. Ou a Faz-Rei. Ou o Corvo. A matadora de matadores. Mas, uma coisa é certa, você deveria temê-la.Quando ela era criança, Darius Corvere – seu pai – foi acusado de insurreição contra a República de Itreya. Mia estava presente quando o carrasco puxou a alavanca, viu o rosto do pai se arroxeando e seus pés dançando à procura do chão, enquanto os cidadãos de Godsgrave gritavam “traidor, traidor, traidor”...No mesmo dia, viu a mãe e o irmão caçula serem presos em nome de Aa, o Deus da Luz. E, embora os três sóis daquela terra não permitam que anoiteça por completo, uma escuridão digna de trevas tomou conta da menina. As sombras nunca mais a largaram.Mia, agora com dezesseis anos, não se esqueceu daqueles que destruíram sua família. Deseja tirar a vida de todos eles. É por isso que ela quer se tornar uma serva da Igreja Vermelha – o mais mortal rebanho de assassinos de toda a República. O treinamento será árduo. Os professores não terão misericórdia. Não há espaço para amor ou amizade. Seus colegas e as provas poderão matá-la. Mas, se sobreviver até a iniciação, se for escolhida por Nossa Senhora do Bendito Assassinato… O maior massacre do qual se terá notícia poderá acontecer. Mia vai se vingar.



RESENHA: 

Em Nevernight, do autor Jay Kristoff, conhecemos uma história sobre traição, morte, injustiça e dor. Vigiada de perto por Aa, o Deus da Luz, e os três sóis da República de Itreya, a pequena Mia Corvere, de apenas dez anos, assistiu com horror a execução do próprio pai. Proclamada pelo cônsul Julius Scaeva, a sentença dizia que ele e outros homens eram acusados de insurreição contra a República. Assim, com a mãe a obrigando a não tremer e jamais esquecer, Mia presenciou o enforcamento do tão carinhoso justicus Darius Corvere. 





“Cuidado para não se cortar com esse seu intelecto tão afiado.” (pág. 21)
“A última coisa que você virá a ser neste mundo, garota, é heroína de alguém. Mas será uma garota que os heróis temem.” (pág. 21)
“Apenas uma criança de dez anos, e já conhecia a cor do medo.” (pág. 23)
“Nunca trema. Nunca trema. E nunca, jamais, esqueça.” (pág. 26)
“Se seu rosto fosse um quebra-cabeça, a maioria das pessoas o poria de volta na caixa sem terminar.” (pág. 27)
“No fim das contas, existem dois tipos de pessoa neste e noutros mundos: aqueles que fogem e aqueles que lutam. Entre vocês há muitos termos para este último tipo de gente. Sanguinário. Instinto assassino. Mais coragem que cérebro.” (pág. 57)
Se já não bastasse o fato de conseguir sentir o cheiro da dor e da morte tão cedo, Mia também assistiu ao momento em que sua mãe e seu pequeno irmão foram levados para a Pedra Filosofal, uma prisão em Godsgrave, pelos mesmos homens que assassinaram Darius Corvere. O destino de Mia estava pronto para se igualar ao da família, mas as sombras não deixaram e a salvaram. Ao lado do Senhor Simpático, um não-gato composto por essas sombras, ela encontrou refúgio com o Velho Mercurio, um homem disposto a ensinar o que fosse preciso para a pequena Mia entrar na Igreja Vermelha, uma espécie de escola e o único lugar em que ela poderia entender a arte do assassinato e conseguir a vingança para sua família.  
“Talvez eu não queira que as pessoas saibam quem eu sou. Talvez goste de ser subestimado.” (pág. 76)
“A beleza vem de berço, mas a inteligência é uma conquista.” (pág. 84)
“Uma escola de matadores. Cercada por noviços e mestres na arte do assassinato. Ela estava lá. Era aquilo.” (pág. 142)
“Um traidor é só um patriota que está do lado errado da vitória.” (pág. 147)
“Você começa do nada. Não possui nada. Não sabe nada. É nada. Porque então você será capaz de tudo.” (pág. 150)
“É preciso reconhecer o mérito dos ashkahis. Não consigo imaginar tortura pior do que ter poder absoluto sobre tudo menos sobre si mesmo.” (pág. 180)
“A Montanha era a forja onde se afiavam as Lâminas, onde se esculpia a morte.” (pág. 182)
“O caminho nem sempre é pavimentado com sangue.” (pág. 202)
“(...) este é um mundo de senadores e cônsules e luminatti; de repúblicas e cultos e instituições construídas e mantidas quase que exclusivamente por homens. E neste mundo, o amor é uma arma. O sexo é uma arma. Seus olhos? Seu corpo? Seu sorriso? Armas.” (pág. 215)
Aos dezesseis anos e munida de sua oferenda a Nossa Senhora do Bendito Assassinato, Mia viaja em direção a Igreja Vermelha, pronta para mostrar seu valor e conseguir passar na iniciação. No meio do caminho, ela encontra Tric, um dweymeris que também deseja seguir seus passos. Juntos, numa aliança improvável, eles embarcam na realidade de uma escola que tem o único objetivo de criar assassinos: as aulas abrangem a arte da sedução, a morte por envenenamento, o roubo como salvação e o combate corpo a corpo. Não só isso, a Igreja Vermelha vai se mostrar um lugar cruel e repleto de surpresas para Mia, que não vai fraquejar, principalmente ao lembrar dos cadáveres ambulantes de sua lista, que inclui Francesco Duoma, Grão-cardeal da Igreja da Luz, Marcus Remus, justicus da Legião Luminatii e, encabeçando o primeiro lugar na sua vingança, o cônsul Julius Scaeva.
“Scaeva é um tirano de merda. Ele tem que morrer. Não só por mim. Pela República. Pelo povo.” (pág. 255)
“Se você não consegue ferir quem te fere, às vezes serve ferir qualquer um.” (pág. 283)
“(...) esta Igreja é feita para me tornar fria. Por isso, me agarrar à parte de mim capaz de sentir piedade fica mais importante a cada viragem.” (pág. 292)
“A vida que vamos levar... não tem final feliz.” (pág. 341)
“Não importa o que tirem de você, eles só podem tirar se você deixar. Essa é a verdadeira força, Tric. Esse é o verdadeiro poder.” (pág. 388)
“O amor era uma burrice. Bobagem. Não havia lugar para aquilo dentro daquelas paredes nem no mundo que ela conhecia.” (pág. 390)
“Ameaças vazias não fazem um matador.” (pág. 399) 
“Quanto mais brilhante a luz, mais profunda a sombra.” (pág. 433)
O livro é o primeiro volume das Crônicas da Quasinoite. Ele é dividido em três partes chamadas de Livro I – Quando tudo é sangue, Livro II – Ferro ou vidro e Livro III – O negro se torna vermelho. No começo, o autor intercala o presente de Mia (o caminho até a Igreja Vermelha, por exemplo) com o passado (a morte do pai e o primeiro encontro com seu shahiid, por exemplo). Depois, essa intercalação diminui. Algo muito interessante que ele faz no início da história, e que pode exemplificar a genialidade do autor, é uma analogia entre a primeira vez de Mia, a perda da sua virgindade, com a primeira vez dela matando uma pessoa da sua lista da vingança. As sensações foram descritas como se estivessem presentes na mesma situação.  
“Lembre-se de quem você era, ainda que o espelho tenha se esquecido.” (pág. 462)
“Não importavam os quilômetros, os anos, os livros empoeirados e as mãos ensanguentadas e a penumbra nociva. Ferro, vidro ou aço: não fazia qualquer diferença do que era feita. O que importava de verdade era no que ela se tornaria depois de matar aquele garoto.” (pág. 492)
“E apesar de todos os quilômetros e todos os anos, a vingança não era um motivo suficiente para torna-se o monstro que ela própria caçava.” (pág. 492)
“Ela seria capaz de passar a vida inteira sabendo que sua família não seria vingada?” (pág. 501)
“Eu ando pelas sombras. Sou um murmúrio. Um suspiro. O pensamento que faz os bastardos deste mundo acordarem suando na veratreva.” (pág. 569)
No cinema, existe a quebra da quarta parede, situação em que o personagem fala diretamente com a câmera e, consequentemente, com o espectador. Aqui, acontece a mesma coisa, é como se o autor estivesse ao lado do leitor numa conversa em terceira pessoa, com informalidade em determinados momentos e excluindo muitas vezes os personagens da narrativa. Essa aproximação fica mais evidente em expressões como “você deve imaginar”, “caros amigos”, “meu querido leitor”, etc. 

Falando nisso, a escrita dele é muito descritiva e cruel. Se existem carnes flageladas e poças de sangue, pode ter certeza que elas vão ser relatadas. O autor não alivia nada para a gente. Tem palavrões, sexo, bebidas e cigarrilhas (fumo). Tem algum momento bonitinho? Não fique animado, porque na próxima página tem uma bomba para explodir nossas estruturas. Por conta disso, recomendo que você tenha a mente aberta para todos os tipos de possibilidades numa mesma história. Só não recomendo a leitura para pessoas com certas “fraquezas” literárias, como morte de animais (ratos, camelos, porcos, cavalos...) e todos os tipos de torturas que podem ser infligidas ao próximo. 
Precisamos falar sobre o mundo espetacular criado pelo autor. Além de mapas, que indicam todos os lugares construídos por ele, muitas informações são importantes e relevantes para a história. A Igreja Vermelha, nas Ruínas Sussurrantes de Ashkah, tem como sua patrona a Deusa da Noite Fauce, e é o principal lugar em que a trama acontece. Por lá, os acólitos (estudantes) precisam mostrar seu potencial em aulas administradas por shahiids (mestres), passam por testes aleatórios e, principalmente, precisam competir entre si para conseguir se tornar uma Lâmina (assassino). Caso algo dê errado, alguns acólitos podem se tornar Mãos, pessoas que apenas servem na Igreja.  

Além de um vocabulário novo que inclui palavras como veratreva, quasinoite, dons e donas, o autor também criou mitos e um tipo diferente de governo. Sem contar que existe muita diversidade nos personagens, alguns deles introduzem novos costumes na história e expandem o conhecimento do leitor com relação ao mundo construído pelo autor. Inclusive, a personagem Mia é uma sombria. Só que ela não entende a origem da sua capacidade de manipular sombras, o que também deixa o leitor na escuridão. Segundo a história, Mia não está no alcance de informações que a ajudariam, e a única pessoa que poderia ter respostas é um personagem impossível, o Lorde Cassius, considerado O Príncipe Negro e o Senhor das Lâminas, líder da Igreja Vermelha.  

Ainda falando sobre a engenhosidade desse universo, ao longo da leitura você vai encontrar notas de rodapé. Elas estão ali para servir ao propósito de revelar informações, exemplos e comentários do autor que não estão inseridos na história, mas só que a narração é o grande diferencial dessas notas. Normalmente, em livros didáticos ou trabalhos acadêmicos, elas são formais e até mesmo chatas, mas em Nevernight elas são engraçadas, levam palavrões, brincam com as situações e, claro, revelam até mais do que o esperado. 



Sobre os personagens, tente não se apegar a eles. Alguns acólitos têm histórias profundas e motivos mais do que sensatos para estarem na Igreja, mas você não pode sentir empatia por nenhum deles. Nem mesmo por Mia. As coisas nunca acabam bem e o destino deles talvez não esteja do seu agrado. Tric, por exemplo, é o responsável por aflorar a humanidade de Mia dentro da escola. Percebemos dois lados dela quando Tric está por perto: o de uma criança que perdeu a família e o de uma mulher que sabe o prazer que pode oferecer. Falando em Mia, ela é a protagonista que todo livro deveria ter. Independente, determinada, forte, faz o que bem entende, não se diminui apenas por ser uma mulher num mundo rodeado de autoridades masculinas, não tem medo de oferecer a outra face e consegue carregar a história nos ombros com muita leveza. 

Nevernight é violento, pesado, cruel e desolador. Nada é o que parece. Não existem finais felizes. Especialmente, descreve a sensação de injustiça que permeia muitos seres humanos. Um livro completo com tudo o que gostaríamos de encontrar nas prateleiras: protagonista forte, trama instigante e a construção de um universo rico em detalhes.



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