O Escravo
Príncipe Cativo # 1
C.S. Pacat
ISBN-13: 9788550101226
ISBN-10: 855070122X
Ano: 2017
Páginas: 320
Idioma: Português
Editora: V&R Editoras
Classificação: 4 estrelas
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SINOPSE: Damianos é um herói para o seu povo e o legítimo herdeiro do trono de Akielos. Mas, depois da morte do pai, seu meio-irmão toma o poder e o captura, vendendo-o como escravo. O guerreiro é obrigado então a servir a Laurent, o príncipe de Vere, a poderosa nação inimiga. Para manter em segredo sua verdadeira identidade e as marcas que escondem seu passado, Damen – como também é conhecido – aceita a condição submissa. Mas Laurent é o que há de pior na corte de Vere. E, como nos meios políticos nada é o que parece ser, Damen é obrigado a estar ao lado do tirano manipulador, ainda que ele o odeie mais do que a qualquer pessoa. Laurent e Damen têm consciência de que não são sentimentos nobres que os aproximam, mas o desejo de supremacia que está na origem da discórdia entre as duas nações. Com um ritmo de tirar o fôlego, Príncipe Cativo: O escravo é uma narrativa que coloca em questão temas políticos e culturais. Uma saga épica, ao estilo de "Game of Thrones", que entrelaça de maneira brilhante jogos de poder e sedução.
RESENHA:
Em Príncipe Cativo - O Escravo, da autora C.S. Pacat, somos transportados para um dia turbulento no reino de Akielos. Além da morte premeditada do rei Theomedes, o povo também precisa lidar com o inesperado falecimento de Damianos (Damen), filho e herdeiro do rei. O resultado desses dois acontecimentos é a ascensão ao trono de Kastor, filho ilegítimo de Theomedes e meio-irmão de Damen, ao lado de Jokaste, uma prostituta. Enquanto nas ruas a comoção é grande, dentro do palácio as coisas são bem diferentes. Na verdade, Damen está vivo. Tudo não passou de um plano ardiloso de Kastor para conseguir ser o novo rei após a morte do pai.
“Você vai acabar entendendo que o que eles estão dizendo no palácio, nas tavernas e nas ruas é verdade. Você é um escravo. Você não vale nada. O príncipe Damianos está morto.” (pág. 13)
“Ele estava no coração do território inimigo, a centenas de quilômetros de casa.” (pág. 15)
“Você só existe para agradar ao príncipe herdeiro, por quem este país está sendo mantido e governado e que vai subir ao trono como rei.” (pág. 23)
“(...) para um príncipe, saber as palavras do inimigo era tão importante quanto aprender as palavras de um amigo.” (pág. 24)
“Aquilo era Vere, voluptuosa e decadente, terra do veneno açucarado.” (pág. 27)
“Laurent podia falar como se tivesse sido criado no chão de um bordel, mas ele tinha a mente de um cortesão veretiano, acostumada a engodos e traições.” (pág. 37)Ele foi levado para Vere, um território adversário de Akielos, numa aparente forma de reforçar a aliança frágil entre os dois lugares. Por lá, sua identidade está a salvo. Todos pensam que ele é apenas um presente de Kastor para o príncipe Laurent, enviado para ser o seu escravo de prazer ou escravo domesticado. Laurent tem uma beleza que chama a atenção de homens e mulheres, lindos cabelos loiros, olhos azuis e pele branca como a neve, mas seu rosto revela um príncipe tirano, mimado e egocêntrico. Damen aprende que a única chance de escapar dessa situação é se submetendo a sua nova posição dentro de Vere.
“Ele sofrera insultos veretianos, passara pela dor do chicote e a violência do ringue. Mas ele não conhecera raiva até agora.” (pág. 70)
“E o que significava ser um príncipe se não lutasse para proteger aqueles mais fracos que ele?” (pág. 73)
“– Ambição é necessária a um rei? – questiona Laurent. – Ou é necessária apenas para se tornar um rei?” (pág. 84)
“Tentar imaginar Kastor tramando contra Laurent era como tentar imaginar um lobo tramando contra uma serpente.” (pág. 101)
“Aquele lugar o enojava. Em qualquer outro, você simplesmente matava o seu inimigo com uma espada. Ou o envenenava, se tivesse os instintos desonrados de um assassino. Ali, havia diversas camadas de traição, sombrias, sofisticadas e desagradáveis.” (pág. 115)
“Como a corrupção daquele lugar penetrara em seus ossos: ele estava certo de que haveria traição; só não tinha certeza de onde viria.” (pág. 141)
“Um príncipe dourado era fácil de amar se você não tivesse de vê-lo arrancando as asas de insetos.” (pág. 144)
“Damen faria tudo o que fosse necessário para manter a segurança de Laurent, se esse fosse o único meio de impedir a guerra, ou adiá-la.” (pág. 144)O livro é o primeiro volume da trilogia Príncipe Cativo, e a narração é realizada em terceira pessoa por Damen. A escrita da autora é explicita e, em determinados momentos, essa característica é uma afronta aos ideais e a sensibilidade do leitor. Por exemplo, é dentro do contexto de escravidão que ela discute o estupro, a pedofilia e a luxúria. O estupro é um ato de diversão para os cortesãos de Vere, que assistem com malícia dois escravos se enfrentando em uma espécie de ringue; a pedofilia é encontrada em homens diplomatas que mantêm relações com crianças; e a luxúria está na forma como as pessoas debatem com fervor qual a melhor “performance” de sexo brutal que já assistiram.
Todas essas discussões são inseridas em um âmbito cultural. Em Vere, eles não gostam de filhos ilegítimos. Por isso, não existem regras quanto ao relacionamento homoafetivo. Eles podem ser públicos ou não, entre cortesãos e escravos. O importante é sentir prazer, provar da carne e não criar bastardos. Por outro lado, o reino de Akielos não se importa com essa legitimidade, tanto que a origem de Kastor e sua relação com Jokaste são a prova viva dessa cultura.
Isso também mostra o quanto os dois territórios e seus personagens são hipócritas. Por exemplo, Damen fica chateado com a forma como trataram um escravo akielon em Vera, mas foi seu próprio reino que instigou a escravidão. Por lá, os escravos são treinados para obedecer. Eles abrem mão do livre-arbítrio em troca de um tratamento imaculado. “Em Akielos, a submissão era uma arte, e o escravo era um artista.” (pág. 69) Qual a diferença entre Akielos e Vere? O que torna Damen tão melhor quanto Laurent? Não existem respostas para essas perguntas, todos eles estão fazendo e falando as mesmas coisas.
Apesar desses tópicos, o livro tem um pano de fundo político. Além de toda a premissa da história ser uma falha da diplomacia, conhecemos os antecedentes da rivalidade entre os dois lugares, que envolve a Batalha de Marlas e as baixas de Aleron, rei de Vere, e Auguste, ex-herdeiro do trono e irmão mais velho de Laurent. Essas mortes resultaram na atual formação de Vere: o irmão do rei é o regente e Laurent é um príncipe ainda sem direito ao trono. Por causa disso, existem muitas alianças, inimizades e traições. Um exemplo é a separação de homens em Guarda do Príncipe e Guarda do Regente, que demonstra o quanto Vere ainda está dividida e não sabe para quem dobrar o joelho.
Mesmo com a hipocrisia na personalidade dos dois personagens, eles são um dos melhores motivos para começar a leitura do livro. Laurent foi construído para ser odiado, mas seu passado (apresentado nas entrelinhas) faz com que tenhamos empatia por seu modo de vida. Com Damen acontece o contrário, ele aparenta ser o estereótipo do herói, mas seu caráter é tão contraditório que o torna imperfeito. O possível relacionamento entre os dois é o que mais instiga a leitura.
O livro é explicito, toca nas feridas, não tem pudor e fala abertamente de todos os assuntos que permeiam a escravidão em um universo totalmente novo. Seus personagens são movidos por politicagem e costumes raros, acreditam numa diversidade distorcida e são construídos de forma belíssima. Além dessas características, recomendo para todos os leitores que estão em busca de uma premissa instigante e a união de dois protagonistas imprevisíveis.
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