8.6.18

[Resenha #1632] A Gaiola Dourada - Vic James @DrVictoriaJames @galerarecord


Trilogia Dons Sombrios # 1
A Gaiola Dourada
A liberdade não é para todos
Vic James
ISBN: B079731JFH
Ano: 2018
Páginas: 415
Idioma: Português
Editora: Galera Record
Classificação: 5 estrelas
Skoob
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SINOPSE: Em uma Grã-Bretanha distópica, além da riqueza e dos títulos, os membros da nobreza também possuem habilidades mágicas, como cura acelerada, leitura de mentes e controle da natureza. Os privilégios não terminam aí: todo plebeu deve servir à nobreza por dez anos. Não há como escapar. Abi Hadley pensou que estaria fazendo um favor a sua família quando os inscreveu para cumprir seus dias de escravidão na residência da Família Fundadora, mas a garota mal sabia dos horrores que estavam por vir. Já seu irmão, Luke, acaba sozinho em uma das cidades mais brutais para os escravos. Tanto Abi quanto Luke precisarão se adaptar a suas novas realidades, ou, quem sabe, se tornar aliados na luta pelo fim dos privilégios de uma elite que busca cada vez mais poder. Enquanto isso, o mais jovem aristocrata da Família Fundadora conspira para moldar o mundo à luz de seu dom sombrio, e os dias de escravidão podem ser apenas o início de algo muito mais cruel.




RESENHA: 

Na distopia A Gaiola Dourada, da autora Vic James, primeiro livro da trilogia Dons Sombrios, a Revolução Igual de 1642 instaurou o Tratado dos Dias de Escravo. Segundo esse acordo, não se é um cidadão completo até ter cumprido uma década de escravidão para a aristocracia. Essa classe, chamada de Iguais, se difere das pessoas comuns apenas por dois motivos: dinheiro e Habilidade. Esse último é descrito como uma capacidade, de origem desconhecida, que surge em apenas uma pequena parte da população e é passada por linhagens. A Habilidade se manifesta de forma diferente para cada membro da aristocracia, por exemplo, alguns podem controlar a mente do outro (apagar memórias e usar a persuasão), e outros podem ter domínio sobre os fenômenos da natureza. Mas um talento é universal, todos com a Habilidade conseguem se curar rapidamente. 
“Ninguém pode trazer os mortos de volta. Nem mesmo eu.” (pág. 21)
“E quem realmente se importava por que os dias de escravo haviam começado, centenas de anos antes? Só importava o fato de que nunca chegaram ao fim.” (pág. 25)
“Em um piscar de olhos, os dias de escravo tinham ido de uma questão idiota de prova à década seguinte da vida de Luke.” (pág. 32)
“Cumpra seus dias de escravo muito velho, e jamais sobreviverá. Cumpra seus dias de escravo muito jovem, e jamais os esquecerá.” (pág. 33)
“Tudo o que formava o universo de Luke naquele momento teria acabado, avançado dez anos em alta velocidade, enquanto o próprio Luke teria ficado parado.” (pág. 50)
“(...) e se perguntou se poderia dormir pelos dez anos seguintes, como alguém em um conto de fadas, até acordar e descobrir que já pagara seus dias.” (pág. 51)
Um cidadão comum pode adiar a sua década de escravidão até o momento em que se achar preparado. Isso pode acontecer com 80 ou 17 anos, mas as consequências são muito parecidas: cumprir seus dias de escravo quando estiver mais velho é meio caminho andado para a morte, já que um corpo cansado não aguenta o trabalho forçado; e cumprir os dias quando se é ainda novo faz com que a juventude suma em um estalar de dedos. 
“Em dias como aquele, Silyen podia sentir a Habilidade correndo dentro de si, procurando uma saída. Canalizar essa força era como tocar violino. Aquele momento em que as vibrações explodiam em música: primorosa, irresistível.” (pág. 73)
“Achava que Habilidade não era um balaio de pequenos talentos, mas sim um esplendor que iluminava as veias de cada Igual.” (pág. 94)
“A Habilidade é o que nos define.” (pág. 96)
“Você não vê nada, não escuta nada e faz seu trabalho.” (pág. 104)
“Era para desvendar o mistério que ela havia adiado seu futuro. Será que valeria a pena?” (pág. 113)
“Ser escravo era uma condição que despojava a pessoa de tudo o que a individualizava.” (pág. 123)
“(...) para os Iguais, todos os escravos eram simplesmente bens pessoais, coisas para serem usadas, ou descartadas, como inúteis.” (pág. 124)
“- Millmoor transforma as pessoas, Luke Hadley. Mas o que a maioria nunca percebe é que dá para escolher como.” (pág. 171) 
“Sapatos e abolição. Ambos tópicos igualmente sem sentido.” (pág. 196)
Esse sistema de escravidão ainda coloca o cidadão em um estado legal de não individualidade, ou seja, ele se torna um bem do Estado sem nenhum direito. Ele precisa entregar 10 anos de sua vida para os Iguais e, se fizer algo de errado no cumprimento de seus dias, os anos podem aumentar e se tornar uma espécie de escravidão perpétua. Quando isso acontece, o cidadão é enviado para Iguais que farão o possível para tornar a vida dele um Inferno. 
“(..) menos os que percebem os dias de escravo não como uma parte normal e inevitável da vida, mas sim como uma violação brutal da liberdade e da dignidade, perpetrada pelos Iguais.” (pág. 232)
“A gente pode ter te escolhido, mas você precisa escolher o jogo.” (pág. 236)
“Trabalho arriscado e condições de vida difíceis manteriam as pessoas focadas em si mesmas e os próprios desafios, incapazes de enxergarem o todo.” (pág. 240)
“Não há vencedores nisso, não até que tudo acabe. E o oponente nunca muda.” (pág. 250)
“Millmoor o transformava por dentro e por fora.” (pág. 311)
“(...) lealdade é uma via de mão dupla.” (pág. 324)
“Não há mágica mais poderosa que o espirito humano.” (pág. 552)
“Se quiser mudar algo, precisa pensar grande.” (pág. 697)
“Cada um de nós é único na forma de usar nossa Habilidade. É como uma impressão digital.” (pág. 723)
“Adoro quando as pessoas não são quem elas parecem. Isso deixa a vida tão mais empolgante, não acha?” (pág. 865)
Normalmente, ele é enviado para Millmoor, a cidade de escravos nos arredores de Manchester. Por lá, além de perder a própria identidade e ser forçado a colocar um chip de localização no próprio corpo, o cidadão precisa trabalhar sem nenhuma garantia de segurança, alimentação correta ou dignidade. Ele é colocado para viver em um prédio X, dependendo de seu estado atual (com a família ou sozinho; maior ou menor de idade), e tem o único objetivo de produzir diariamente o maior número de coisas para a aristocracia. Por outro lado, existe o Serviços de Propriedades, dentro da Divisão de Alocação, em que os Iguais buscam por escravos domésticos. Essa é a melhor opção para o cidadão que não quer sofrer os infortúnios de Millmoor: trabalhar diretamente para a aristocracia. 

É nesse contexto distópico que conhecemos a família Hadley. Abi Hadley, junto com os pais, resolve inscrever a família para os dias de servidão mais cedo do que o irmão, Luke, esperava. Segundo a Divisão de Alocação, eles estão sendo levados para a Propriedade de Kyneston, em Hampshire, cercada por um muro de oito milhões de tijolos, lar da Família Fundadora: Lorde Whittam Jardine, Lady Thalia, Herdeiro Gavar, Jener Jardine e Silyen Jardine. Cada Hadley recebe uma função dentro da propriedade, mas, infelizmente, no Dia da Partida, eles descobrem que Luke foi realocado. Destino? Millmoor.  

O livro é narrado em terceira pessoa por diversos personagens. Nesse caso, essa alternação é importante para contextualizar o leitor no universo que está sendo apresentado no primeiro volume da série. Por exemplo, com a narração de Abi, ficamos sabendo como é o período de escravidão em Kyneston; do outro lado, na narração de Luke, vemos o quão diferente é Millmoor. Ainda temos as perspectivas de personagens que dão uma melhor visão da política dentro dessa Grã-Bretanha escravocrata.  

Falando em personagens, cada um tem uma função muito nítida para o desenrolar da história. Alguns tentam se rebelar contra o sistema imposto pelos Iguais, ou sabem que tem alguma coisa errada na falta de direitos, como o Clube Social de Jogos de Millmoor, e outros que usufruem de sua herança e só pensam em manter o sistema vivo e pulsando, como alguns membros da Família Fundadora e a personagem Bouda Matravers, noiva do Herdeiro Gavar. 

Não gostei do desenvolvimento da personagem Abi e esse foi o único ponto negativo que encontrei. Foi previsível o fato de ela ter algum interesse romântico em um dos irmãos da Família Fundadora. Mesmo Jener sendo o melhor dos garotos, ele ainda ocupa uma posição de senhorio. Apesar de seu jeito doce, Jener nunca levantou suspeitas com relação ao sistema ou tentou de alguma forma interferir no modo de viver de seus pais. Então, como ela conseguiu sentir algum tipo de atração?  Achei desnecessário esse envolvimento, até porque o livro caminharia muito bem sem um suposto romance. 

A escrita da autora traz toda a essência de uma distopia. Fiquei até imaginando qual seria meu comportamento diante de todas as atrocidades que os Iguais submetem os cidadãos comuns. Ela criou um universo sólido com camadas profundas de características, desde fatos históricos, como o Dia da Proposta, em que o Chanceler argumenta um ponto com relação ao sistema que vai para votação (por exemplo, a primeira proposta na história estabeleceu a Grã-Bretanha como uma república governada pelos Iguais), até a linhagem de aristocratas com Habilidades, como a da Família Fundadora. 

A Gaiola Dourada é um livro de tirar o fôlego. Prepare-se para devorar as páginas no menor período de tempo possível. Isso acontece porque nos apegamos aos personagens criados pela autora, já que não queremos que nada de ruim aconteça com grande parte deles, e nos rebelamos também contra o sistema de escravidão apresentado por ela (DES-IGUAL). Tudo é imprevisível, repleto de surpresas e, querendo ou não, muitas coisas não são tão diferentes da nossa realidade. 




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