24.6.18

[Resenha #1640] O Colecionador de Memórias - Cecelia Ahern @Cecelia_Ahern @Novo_Conceito


O Colecionador de Memórias
Cecelia Ahern
ISBN-13: 9788581638874
ISBN-10: 8581638872
Ano: 2018
Páginas: 272
Idioma: Português
Editora: Novo Conceito
Classificação: 5 estrelas
Skoob
Compre: Amazon
SINOPSE: Quando Sabrina Boggs tropeça em uma misteriosa coleção de bolinhas de gude que pertencia ao seu pai, percebe que não sabe nada sobre o homem com quem cresceu. É uma coleção valiosa e incomum – incomum se ela pensar no homem que sempre conheceu. No entanto, há algo real lá dentro, muito verdadeiro sobre seu pai, ou sobre a criança que ele fora. Sabrina só tem vinte e quatro horas para descobrir os segredos do homem que ela pensava conhecer. Um dia para exumar memórias, histórias e pessoas que não sabia existirem. Um dia que a mudará para sempre.Fazendo uma busca pelas memórias de seu pai, Sabrina persegue uma busca de identidade; os segredos que ela trará à tona irão mudar tudo o que dava por certo em sua vida. Mas se seu pai não é o homem que ela achou que fosse, quem é a própria Sabrina?



RESENHA:

Em O Colecionador de Memórias, da autora Cecelia Ahern, conhecemos uma história de pai e filha. Sabrina Boggs é salva-vidas numa casa de repouso, tem três filhos e está passando por uma terapia de casal para tentar melhorar a relação com o marido. Apenas duas peculiaridades a distinguem de outras pessoas: ela precisa lembrar a todo o momento de respirar e, ao contrário do que se imagina, sua memória é impecável e a está sempre levando para momentos de sua infância. Seu pai, Fergus Boggs, sofreu um derrame e está vivendo em uma casa de repouso, onde recebe o tratamento adequado para ajudar na movimentação do corpo e na contínua perda de memória. Ele se tornou outra pessoa, sua amabilidade surpreende até mesmo Gina, sua ex-mulher, que faz questão de visitá-lo agora que Fergus está diferente da época em que eram casados. Tudo indica que essa mudança de comportamento se deva às recordações que ele não consegue mais reviver. 
“Parece que quando me lembro de uma pessoa, não é nada pessoal do dia a dia que penso, e sim nos momentos mais dramáticos ou nos momentos em que as pessoas mostraram mais do seu lado que geralmente fica oculto.” (pág. 8)
“Meu paizinho nunca disse que chorar era coisa de bebezinho, como o padre disse, porque chorar é pra quem está triste.” (pág. 11)
“É como se tivesse aberto uma caixa da vida de outra pessoa.” (pág. 37)
“Todos nós temos coisas que jamais queremos esquecer. Todos nós precisamos de alguém que se lembre delas, só para garantir.” (pág. 56)
“Ao abrir a caixa de bolinhas de gude, abri, na verdade, uma caixa de problemas.” (pág. 89)
“Sim, talvez eu esteja esperando que algo aconteça. Talvez nunca aconteça. Talvez eu mesma tenha que fazer acontecer. Talvez isso que eu esteja fazendo agora.” (pág. 91)
Em um dia de eclipse solar, Sabrina recebe caixas com os pertences do pai. Dentro delas, ela encontra um tesouro que nunca tinha ouvido falar. Muitas bolinhas de gude, de todos os tipos e formatos, guardadas como se fossem uma montanha de ouro, e um inventário com todas as informações sobre elas e seus devidos preços. Fergus Boggs aparentemente era um colecionador fervoroso, mas Sabrina não sabia dessa paixão do pai. Ao fazer uma inspeção nessa descoberta, ela nota que estão faltando dois tipos de bolinhas de gude, as mais caras da coleção inteira. Partindo desse princípio, ela começa a sua busca pelas bolinhas que faltam. 
“Gosto quando posso me manter comigo mesmo. Posso controlar o que as pessoas sabem de mim.” (pág. 116)
“As pessoas não sabem o que causam aos outros quando fazem coisas que não deveriam.” (pág. 133)
“Só venho torcendo para ter a sorte de você se apaixonar por mim de novo.” (pág. 148)
“Pelos catorze últimos anos eu venho mentindo pra você sobre um hobby que tenho. Isso tem sido uma imensa parte da minha vida, mas você não sabe nada a respeito.” (pág. 155)
“(...) seu pai é seu pai, quem ele era, quem ele é, ele é o mesmo homem que você sempre conheceu.” (pág. 170)
“Chega de segredos. Chega de vidas separadas. Passei a detestar o homem que me tornei.” (pág. 176)
Só que sua jornada revelará outras perguntas. Tudo começou com essas bolinhas desaparecidas, mas Sabrina acaba se encontrando com a vida desconhecida do próprio pai. Há um lado dele que ela nunca conheceu, uma vida que o pai levava escondida de todos ao seu redor. Agora, encontrar a versão real de Fergus é a prioridade principal de Sabrina.
“Quando um membro da família parte ou morre, isso muda a dinâmica da família. As pessoas mudam, assumem lugares que queriam ou são forçados a assumir, em papéis que nunca quiseram. Isso acontece sem ninguém notar, mas tudo está mudando, o tempo todo.” (pág. 197)
“Agora sei qual é a sensação de ser meu pai, com todo mundo à sua volta sabendo de coisas que você não sabe e isso aborrece um bocado.” (pág. 212)
“Preciso terminar minha noite com algum tipo de conclusão. Abri uma ferida e preciso encontrar alguma coisa que ajude a cicatrizar. Se eu não conseguir completar a coleção do meu pai, então, tenho que completar minha missão pessoal.” (pág. 237)
A narração em primeira pessoa é realizada por Sabrina e Fergus, sendo que existe uma intercalação entre presente e passado (lembranças, memórias) na narrativa de Fergus. A principio, lendo dessa forma, pode até parecer confuso, mas não é. As memórias de Fergus ajudam a traçar a vida que ele levou, a vida que ele queria ter levado, e como essas decisões interferiram na personalidade de Jéssica. 

Eu já conhecia a autora por outro livro chamado Simplesmente Acontece, também publicado pela editora Nova Conceito, que é um dos meus favoritos da vida. Aqui, ela não decepciona também. Sua escrita é simples, sem muitos floreios e traz uma sensação familiar de nostalgia, já que muitos dos acontecimentos são genuínos e poderiam (podem!) ocorrer com qualquer pessoa. A autora também cria uma ambientação cotidiana, mas por conta dos personagens essa ambientação se torna mágica. 

Falando em personagens, você se conecta com eles de forma muito rápida. Eles são muitos, pode ter certeza, mas todos têm um papel específico para a história. Por exemplo, como temos uma visão mais ampla da vida e da personalidade de Fergus por conta de suas memórias, sabemos que ele teve um irmão, o Hamish, que dentre todos os outros teve um papel maior (apesar de curto) em sua vida. Ele era o mais velho dos irmãos e tinha o Fergus como o seu favorito. Sendo assim, o protegia dos outros e confiava nele todos os tipos de segredos. Em um determinado momento, Hamish e Fergus se entrelaçam e utilizam o nome um do outro para diferentes fins, mas com a mesma intenção.

Alguns acontecimentos da narração de Fergus criança são sensacionais, fazia muito tempo que eu não gargalhava lendo um livro. Para exemplificar, logo no começo descobrimos que a mãe de Fergus prometeu que os filhos teriam o mesmo destino de Jesus Cristo (principalmente a parte dos furos nas mãos e nos pés) se não se comportassem. Aí, após uma traquinagem envolvendo o cocô do irmão mais novo, Fergus mergulha em devaneios de como seria sua vida preso em uma cruz, e como ninguém pensou que Maria poderia ter sido a responsável pelo destino do filho. Acredite em mim, esse é um dos melhores momentos. 

Se você está esperando um livro com ação e reviravoltas, então vai encontrar pouco disso em O Colecionador de Memórias. A história apresentada é singular, com personagens tão comuns como você e eu. O mais interessante é o fato de que a autora usa as bolinhas de gude para fazer reflexões sobre o modo de viver de Fergus, por exemplo, ele passa grande parte da própria vida renegando suas origens e o seu amor pelas bolinhas, o que acarreta no distanciamento de sua família e em uma vida resumida em mentiras. 

O Colecionador de Memórias é mais uma bela obra da autora Cecelia Ahern, que traz questionamentos sobre quem somos, a vida que levamos e os nossos sonhos. Uma leitura leve e contagiante, repleta de personagens carismáticos e reais, situações genuínas e reflexivas, recomendada para qualquer leitor disposto a chorar e dar risadas.  



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