12.1.20

[Resenha #1696] Bem-vindos ao paraíso - Nicole Dennis-Benn @ndennis_benn @edmorrobranco


Bem-vindos ao paraíso
Nicole Dennis-Benn
ISBN-13: 9788592795337
ISBN-10: 8592795338
Ano: 2018
Páginas: 416
Idioma: português
Editora: Morro Branco
Skoob
Classificação: 4 estrelas
Compre: Amazon

Sinopse: Em um resort luxuoso nas belas praias de areia branca da Jamaica, Margot luta para manter Thandi, sua irmã mais nova, na escola. Ensinada desde pequena a usar o corpo para sobreviver, ela está determinada a proteger Thandi do mesmo destino. Mas quando a construção de um novo hotel ameaça sua vila, Margot enxerga uma oportunidade de independência financeira e a chance de admitir um segredo chocante: seu amor proibido por outra mulher.
Bem-vindos ao paraíso é um romance de estreia poderoso e um hino sensível aos dramas de um mundo escondido na vasta extensão de mar turquesa, um lugar que muitos turistas veem apenas como um paraíso.



Resenha:

Sem nenhum conhecimento prévio do livro ou da autora, peguei esse livro para ler, confesso que por conta da capa que é simplesmente maravilhosa, a editora fez um trabalho magnífico.

Situado na Jamaica, este livro mostra os efeitos devastadores do turismo, é praticamente uma denúncia da invasão de resorts de luxo em detrimento ao bem-estar dos turistas, enquanto a população é deixada na miséria. 
"Há apenas cinco anos, as pessoas de Little Bay partiram em massa, forçadas a sair de suas casas para a rua. (...) No passado, as empreiteiras aguardavam até que os deslizamentos de terra e outros desastres naturais fizessem o trabalho sujo. Mas quando o turismo se tornou a principal atividade econômica da ilha, tanto as empreiteiras como o governo se tornaram vorazes, insensíveis. (...) Aqueles que não puderam suportar o estresse de recolher todos os pertences para recomeçar a vida nova vagueavam pelas ruas resmungando consigo mesmos. Era como se o próprio território se tivesse voltado contra eles, engolindo suas casas e animais e hortas, e expelido resíduos." pág. 143 
Mas a história é muito mais profunda: contada pelos olhos de uma família de três mulheres, a mãe Delores e suas duas filhas de pais diferentes, Margot, 30 anos, e Thandi, 15. Margot trabalha em um hotel, administrado por um homem branco rico. Além de trabalhar no hotel como recepcionista, ela se prostitui para que os "gringos" e o proprietário do hotel ganhem mais alguns dólares.

Ao longo do livro, a protagonista conta o porquê de sua prostituição e seu desejo de proporcionar um futuro melhor para sua irmã mais nova e garantir uma boa educação para ela ingressar em uma universidade. Observe que não há educação pública.

O livro ainda contém narrativas do ponto de vista de outros personagens, como a mãe de Margot, que ela não se dá bem por várias razões (que não vou mencionar em detalhes, pois eu daria grandes spoilers), Thandi, irmã mais nova de Margot , que está passando por momentos difíceis devido a um trauma do passado e à pressão que a família lhe impõe. E depois há o ponto de vista de Verdene, amante de Margot. Esses personagens nos levam ao fundo desse mundo através dos olhos e de todos os sentidos, em uma narrativa perfeitamente desenvolvida.

O romance é um exame cuidadoso sobre classe, raça, sexualidade e violência de gênero. Esse livro também aborda o turismo sexual, e por isso o livro está com muitas descrições de cenas de sexo. E o turismo sexual, por muitas vezes se torna a única forma de sobrevivência para algumas pessoas, incluindo até mesmo crianças. Também é abordado o preconceito, o racismo e até o uso de cremes para ficar com a pele mais clara.
"Pobres almas que pensam que um pouco de clareador de pele fará com que os poderosos as enxerguem como mais do que apenas sombras que passam despercebidas sob os sapatos de couro importado que usam." pág. 101
O livro também mostra o dialeto patois que é uma mistura de vários idiomas com muitos erros gramaticais, exemplo "Num mi enche, muié"; "A conversa é de A e B. Bai puxá o saco da tua mamai, seu minino cascudo, cabeludo."

Este não é um livro fácil, mas imagino que isso foi a intenção da autora: revelar a dura e complicada realidade das famílias pobres em uma ilha que a maioria dos turistas considera o paraíso. Ela é uma escritora magistral (é difícil acreditar que esse seja seu romance de estréia); portanto, os picos dramáticos e as partes emocionais da história nunca parecem clichês. De fato, as voltas e reviravoltas são angustiantes porque são muito críveis; porque os vínculos e a disfunção de uma família pequena, bem como o alto custo da mobilidade e da sobrevivência ascendentes, são retratados de maneira tão fascinante e devastadora.


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