João Guimarães Rosa
ISBN-13: 9786556121741
Ano: 2021 / Páginas: 256
Editora: Global
Classificação: 4 estrelas
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Sinopse: O livro publicado em julho de 1967 reúne quarenta estórias curtas e traz um aspecto peculiar: uma obstinada preocupação do escritor com o modo de apresentar suas estórias aos leitores. Tal desejo de Rosa pode ser visto, num primeiro momento, pelo modo como a configuração da duplicidade ficção/metaficção encontra-se registrada no próprio aspecto gráfico do texto, em que se diferenciam os caracteres redondos dos itálicos. Os primeiros são utilizados nos quarenta contos, ou seja, nos textos ficcionais propriamente ditos. O segundo estilo é adotado nos prefácios, epígrafes, citações. Em Tutameia, são tecidas por Rosa insuperáveis tramas de matéria variada. Dentre a miríade de temas e assuntos tocados pelo escritor neste livro, podemos citar o amor (presente em “A vela ao diabo” e “Desenredo”), a vida dos ciganos (o caso dos contos “Faraó e a água do rio”, “O outro ou o outro” e “Zingarêsca”) e, como não poderia deixar de narrar, o cotidiano de figuras típicas do mundo sertanejo, elemento constitutivo das narrativas “Hiato”, “Sota e barla” e “Vida ensinada”.
Além dos essenciais textos introdutórios de Paulo Rónai, grande conhecedor da obra rosiana, esta edição da Global traz ao fim um estudo do crítico literário Gilberto Mendonça Teles intitulado “O pequeno 'Sertão' de Tutameia”, publicado originalmente na revista Navegações, v. 2, n. 2, em julho-dezembro de 2009. A Global também apresenta ao leitor o projeto de Victor Burton , que desenvolveu a capa a partir da fotografia de Araquém Alcântara, fotógrafo especializado em registrar as paisagens brasileiras.
Resenha:
Tutameia, terceira estórias de João Guimarães Rosa é um conjunto de contos publicada originalmente em 1967. Você nem mesmo tem tempo de entrar nas entrelinhas que a atmosfera já foi criada e dissolvida. Lendo todos os contos temos a sensação de ter entrado em um universo complexo. O título do livro se refere à uma renda, porque todas as histórias estão ligadas entre si, criando o mesmo clima e construindo variações e bordados sobre um fio temático comum. O fundo é sempre o áspero e selvagem Grande Sertão, a árida região do Brasil.
Histórias de amor, desejo e culpa, histórias de rancores e impulsos sombrios, de fantasmas e prisioneiros, sombras e projeções de imagens, fugitivos e assassinos no emaranhado de bosques e colinas, pequenas aldeias, fazendas e pastores. O olhar irônico acompanha toda a narrativa, junto com a curiosidade em encontrar as surpresas escondidas nos casos de vida. O realismo mágico de Tutameia te leva ao encontro e choque entre a beleza e a dureza da vida. E os quatro prefácios revelam a relação refinada e lúdica do autor com o universo das palavras, seu gosto pela ironia, charadas, anedotas, piadas e paradoxos.
Os personagens representam os arquétipos da natureza humana. Homens orgulhosos e ciumentos, mulheres astutas, velhos sábios e jovens impacientes. Movimentam-se como um teatro de fantoches, em que o épico e o ridículo se misturam. Dentro de padrões de vida muito simples e repetitivos, surgem situações inusitadas.
A escrita de João Guimarães Rosa é surpreendente. As histórias presentes em Tutameia são habilmente cinzeladas, cada palavra é necessária e no lugar certo, a tal ponto que se tem a sensação de que mover uma delas todas as estruturas meticulosamente construídas desmoronaria.
No final, quando você tiver passado ileso por todas as "terceiras estórias", perceberá que o sentimento que ficou com você não é o de ter lido um livro de contos, mas algo homogêneo, algo que tem um fio condutor e isso revelou um mundo em sua complexidade.
Tutameia não é um livro fácil, a linguagem poética de João Guimarães Rosa, o recurso contínuo ao jogo linguístico, o requinte das palavras, do ritmo, ajudam a criar uma obra preciosa e lúdica. Você tem vontade de ler com um sorriso no rosto. Recomendo.
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