22.12.21

[Resenha #1802] Casa-Grande & Senzala - Gilberto Freyre @globaleditora

Casa-Grande & Senzala

Gilberto Freyre

ISBN-13: 9788526008694

Ano: 2008 / Páginas: 727

Editora: Global

Skoob

Classificação: 4 estrelas

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Sinopse: Abordagens inovadoras de vida familiar, dos costumes públicos e privados, das mentalidades e das inter-relações étnicas revelam um painel envolvente e deliciosamente instigante da formação brasileira no período colonial. Da arquitetura real e imaginária da casa-grande e dos fluxos e refluxos do cotidiano da família patriarcal, emergiram traços da convivência feita de intimidade e dominação entre senhores e escravos e entre brancos, pretos e índios que marcaram para sempre a sociedade brasileira.


Resenha:

Casa-Grande & Senzala é um clássico de Gilberto Freyre publicado em 1933, e é uma obra essencial para entendermos a construção da sociedade brasileira, que até os dias de hoje mantém preconceitos arcaicos contra as mulheres, índios, negros e pobres e não é capaz de avançar para um estágio civilizacional mais avançado.



Vivemos em um país que impôs a exclusão social, os preconceitos raciais, religioso, de classe, de orientação sexual e de gênero desde o início da colonização portuguesa até os dias atuais. Para compreendermos a sociedade brasileira, portanto, é necessário estudarmos as nossas raízes coloniais, e em particular a formação da elite brasileira, que nasceu com as capitanias hereditárias, os engenhos de cana-de-açúcar, a imposição do cristianismo, o trabalho escravo, a submissão da mulher e a dependência política, econômica e cultural.

Casa-Grande & Senzala apresenta um retrato da sociedade aristocrática, patriarcal, branca, cristã e escravocrata do período colonial brasileiro, entre os séculos XVI e XIX. Gilberto Freyre faz uma descrição detalhada da alimentação, vestuário, higiene, saúde, arquitetura, mobiliário, vida cotidiana, sexualidade, religiosidade, meio ambiente, comércio e outros aspectos da vida colonial brasileira, e em especial da miscigenação entre europeus, negros e índios, um dos temas centrais da obra.





Logo no começo do livro, o autor critica a monocultura latifundiária, concentrada nos engenhos de cana-de-açúcar, descrevendo todos os pontos negativos que derivam disso, como por exemplo, o comprometimento da saúde, além de prejudicarem o solo. Como também o mau suprimento de víveres frescos, obrigando grande parte da população ao regime de deficiência alimentar caracterizado pelo abuso do peixe seco, farinha de mandioca e carne de charque. E como a economia de monocultura açucareira era voltada para a exportação à cidade, não havia espaço para o cultivo de verduras, legumes, árvores frutíferas, e nem a criação de gado doméstico para a alimentação. Frutas e carnes eram importadas da Europa, em caravelas, e pela ausência de recursos de conservação artificial e tempo da viagem, os alimentos chegavam aqui muitas vezes estragados. E também,  importava-se quase tudo da metrópole, desde vestuário e armas até ferramentas de trabalho. Assim, toda a atenção estava concentrada no cultivo e exportação do açúcar e no lucro imediato oferecido por esse negócio, sem nenhuma preocupação com a criação de outras atividades econômicas, mesmo para a sobrevivência. A alimentação inadequada, tanto dos senhores quanto dos escravos, resultava na em vários problemas como a diminuição da estatura, do peso e do perímetro torácico, na descalcificação dos dentes; insuficiências tireóidea, velhice prematura, fertilidade em geral pobre, apatia, entre outros.


As empresas coloniais não estavam preocupadas com a construção de uma nação próspera, de economia diversificada, mas simplesmente com a exploração intensiva da terra, com o uso do trabalho escravo, para a obtenção de lucros rápidos nas exportações para a metrópole. E os grandes proprietários rurais dispunham ao seu bel-prazer da vida e integridade moral e física dos africanos e índios escravizados, de suas mulheres e filhos, todos tratados como se fossem animais ou coisas, destinados ao prazer e ao lucro de seus senhores. 

Casa-Grande & Senzala é um livro para compreendermos como se formou o povo brasileiro, e nos ajuda a compreender porque até hoje fomos incapazes de criarmos uma civilização decente.


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