1.6.22

[Resenha #1850] A Doçura da Água - Nathan Harris @NovoSeculo


A Doçura da Água

Nathan Harris

ISBN: B09X6B1QXN

Ano: 2022 / Páginas: 429

Editora: Novo Século

Skoob

Classificação: 4 estrelas

Compre: Amazon

Sinopse:  Uma estreia impactante sobre o vínculo improvável entre dois irmãos recém-libertos e um fazendeiro da Geórgia. Uma aliança que vai alterar a vida de todos eles para sempre. Nos últimos dias da Guerra Civil Americana, os irmãos Prentiss e Landry – libertos pela Proclamação de Emancipação – buscam refúgio na propriedade de George Walker e de sua esposa, Isabelle. Os Walkers, arruinados pela perda de seu único filho na guerra, contratam os irmãos para trabalhar em sua fazenda, esperando que essa amizade inesperada estanque a dor de seu luto. Já Prentiss e Landry planejam economizar dinheiro para viajar ao norte, em busca de uma chance de se reunirem com a mãe, vendida quando eram meninos.

Paralelamente, um romance proibido floresce entre dois soldados confederados. Os jovens, recém-chegados da guerra à cidade de Old Ox, têm seus encontros às escondidas na floresta. Mas quando esse segredo é descoberto, o caos resultante desencadeia consequências devastadoras em todo o vilarejo.


Resenha:

A trama explora questões de grande atualidade como a aceitação da homossexualidade e as raízes da opressão racial nos Estados Unidos.

A história se passa na cidade fictícia de Old Ox, na Geórgia, bem no fim da Guerra Civil Americana, logo após a Proclamação de Emancipação dos escravos. Começa com um homem branco chamado George Walker caçando um animal misterioso na floresta à noite. Ele não encontra o animal, mas encontra dois homens negros que eram escravos da fazenda vizinha, o tagarela Prentiss e seu silencioso irmão Landry. Embora assustado, George não atira neles e nem os trata mal. Ele é respeitoso, mesmo que eles estejam em sua terra.

George Walker e sua esposa, Isabelle assombrados pela morte na guerra de seu único filho, contratam os irmãos para trabalhar em suas terras, pagando-lhes salários justos e esperando que sua amizade inesperada os ajude a se curar. Enquanto isso, Prentiss e Landry planejam economizar dinheiro para viajar para o norte e encontrar uma maneira de se reunir com sua mãe, que foi vendida quando eram crianças. 

Em um enredo paralelo ao de Prentiss, Landry e os Walkers, um romance no estilo "Brokeback Mountain" entre dois soldados brancos confederados. Quando o casal é descoberto por um dos irmãos em flagrante, a narrativa toma um rumo inesperado.

"Tocou o solo novamente, sabendo que não estaria presente quando a generosidade da terra fosse revelada, sabendo que não veria o sutil deleite no rosto do pai, aparente apenas na intensidade de seu olhar sobre as plantas, uma expressão radiante de amor distante que ele dispensava com certa parcimônia. Depois de um silêncio, declararia os amendoins débeis, improváveis de serem comprados por alguém, antes de voltar atrás e declarar: Eles vão servir. Era o movimento fundamental do pai :abraçar suas falhas em manter um senso de ambição. Mas essa vida – quieta, respeitável, repleta de recompensas escassas – não seria a de Caleb. Não. Sua própria jornada, ele estava determinado, o levaria a outro lugar, a qualquer salvação insignificante que ele pudesse encontrar longe desse lugar." 

"As sombras das árvores e dos arbustos surgiam e desapareciam como aparições em seu rastro. O sol finalmente começou a nascer, e a estrada foi iluminada com seu primeiro brilho penetrante, a essência de algo sobrenatural, como se a própria terra estivesse se dissolvendo em fragmentos brilhantes de luz. Eles não viram uma alma viva durante toda a jornada."

"Eram apenas imagens conjuradas pela imaginação, é claro, e ela sabia muito bem que tais coisas não lhe eram prometidas. Ela poderia esperar mais, mas há tempos aprendera a viver com o que quer que acontecesse. No entanto, às vezes – apenas às vezes –, a esperança era o suficiente." 


"Agora ela simplesmente queria a paz que havia reunido em sua imaginação, os pensamentos do que poderia vir a ser."

"É melhor guardar isso para as borboletas sociais que adoram tagarelar nos salões, você não acha? Vamos nos ater aos assuntos importantes." 

Com sinceridade e empatia, o escritor novato Nathan Harris cria um elenco inesquecível de personagens e nos apresenta os meandros sociais do estado da Geórgia durante a violenta era do fim da Guerra Civil. Considerado por muitos como a jovem promessa da literatura americana, Harris é a nova sensação nos círculos literários americanos e conquistou as bibliotecas de figuras como Oprah Winfrey e Barack Obama, que o incluíram em sua lista de melhores livros do ano de 2021.

Sua narrativa se caracteriza por abordar, por meio de uma perspectiva histórica não isenta de lirismo, questões identitárias extremamente atuais para a sociedade atual, como a opressão racial, a identidade sexual e de gênero. Com esta bela estreia, o jovem autor liga-se profundamente às preocupações e desejos de toda uma geração que necessita de novos modelos narrativos que abordem os complexos problemas sociais do século XXI.





Em "A Doçura da Água", Nathan Harris equilibra os detalhes íntimos dos personagens com ideias mais amplas sobre o legado da escravidão na América ou o que significa buscar a liberdade total. Segundo o próprio autor, os ex-escravos Prentiss e Landry "são as partes mais impressionantes e têm uma ligação urgente com os tempos em que vivemos, mas foram difíceis de compor" devido ao impacto psicológico de recriar os traumas e consequências sofridas por esses personagens. Historicamente, a história explora como a resistência branca minou a Reconstrução e como os nortistas acabaram cedendo aos objetivos segregacionistas e supremacistas dos sulistas brancos.

"A Doçura da Água" rendeu ao autor no ano passado uma posição de finalista do Booker Prize, um dos prêmios literários mais prestigiados do mundo em língua inglesa, enquanto ele foi reconhecido com outros prêmios importantes, como o Ernest J. Gaines Award for Literary Excellence, o Prêmio Willie Morris de Ficção do Sul e entre outros prêmios. Recomendo.



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