[Resenha #100] A Psique Japonesa - Grandes temas dos contos de fadas japoneses de Hayao Kawai

Classificação: 4 estrelas
 Sinopse:
Apesar de os japoneses e seus produtos estarem presentes em todo o mundo, a sua cultura ainda permanece escondida e misteriosa. Este livro examina o mais profundo da protegida, melancólica e adorável alma japonesa, interpretando alguns dos maiores temas dos seus contos de fadas. Hayao Kawai aborda aqui questões como - por que tão poucos contos de fadas japoneses terminam com o 'felizes para sempre' e por que a figura feminina é quem melhor expressa o ego cultural e as possibilidades de futuro do país. O autor compara os contos japoneses com os ocidentais, detacando as personagens e temas idiossincráticos que os constroem - a terrível mulher que come pessoas, a fuga obscena de Oni (espírito assustador, mas às vezes cômico), elo entre irmãos, palácios submersos de dragões, movimento entre 'mundos'; com tais elementos, o autor apresenta delicadamente as múltiplas faces da psique japonesa. 

Resenha:

Escrito pelo primeiro psicanalista junguiano do Japão, Hayao Kawai é doutor em Psicologia e diretor-geral do Centro de Pesquisa Internacional para Estudos Japoneses. Foi professor da Universidade de Kyoto.

A obra aborda questões como: por que tão poucos contos de fadas japoneses terminam com o "felizes para sempre" e por que a figura feminina é quem melhor expressa o ego cultural e as possibilidades de futuro do país.

A obra revela as características mais profundas escondidas nos contos populares do Japão, os "mukashibanashi", os "contos de antigamente".

 “O padrão no qual um homem que vive uma vida normal num espaço cotidiano encontra uma linda mulher de um espaço não-cotidiano ocorre com freqüência nos contos de fadas e nas lendas do mundo inteiro. (...) Ao mesmo tempo em que os contos de fadas possuem uma natureza universal, eles manifestam características ligadas à cultura de onde surgiram”, afirma Kawai. Já no primeiro capítulo ele vai demonstrar essa idéia dentro dos contos de fadas japoneses.

     Ele defende que, “psicologicamente, podemos dizer que os olhos através dos quais os japoneses olham o mundo localizam-se nas profundezas inconscientes e não na consciência”. Ao primar pelas explicações e pelo raciocínio claro, o autor consegue apontar com precisão as diferenças e semelhanças entre os contos japoneses e ocidentais.

No livro o primeiro conto discutido foi "A casa do rouxinol".
Trecho:
"Vamos pensar um pouco sobre a estrutura dessa história. A floresta, local onde a história acontece, era bem familiar ao nosso herói, mas ele encontrou lá uma linda mansão que ele não conhecia. Às vezes, somos surpreendidos pela descoberta de coisas novas em uma realidade que acreditávamos ser completamente familiar para nós. Uma cena comum e corriqueira pode, de repente, parecer brilhante ou então assemelhar-se a um abismo. Uma mulher linda pode parecer feia ou até mesmo virar uma bruxa. A realidade consiste em infinitas camadas. Somente no dia-a-dia é que a realidade aparece como uma unidade com uma única camada que nunca irá nos ameaçar. No entanto, camadas profundas podem surgir na superfície bem diante de nossos olhos. Os contos de fadas nos dizem muito a respeito..." pág 18

Os contos de fadas possuem dois aspectos: um universal a todos os seres humanos e outro particular à cultura de onde a história é contata. No livro isso será discutido, achei muito interessante.

Para facilitar a leitura e a compreensão das teses expostas, ao longo do livro foram inseridas algumas tabelas e esquemas visuais.
Há ainda, ao final da obra, um apêndice com os contos sobre os quais o autor faz referência, o que favorece ao leitor para um melhor entendimento. Gostei muito de ler os contos.