12.1.18

[Resenha #1482] O Som e a Fúria - William Faulkner @cialetras


O Som e a Fúria
William Faulkner
ISBN-13: 9788535929423
ISBN-10: 8535929428
Ano: 2017
Páginas: 376
Idioma: português 
Editora: Companhia das Letras
Skoob
Classificação: 4 estrelas

Sinopse: O som e a fúria, de 1929, é considerada a obra mais importante do escritor norte-americano ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949. O romance surgiu em um período de isolamento, depois que o autor teve seu terceiro romance recusado por diversas editoras. Abalado, William Faulkner investiu num estilo ousado, tecido por quatro vozes narrativas distintas e saltos inesperados no tempo. É dessa forma, permeada por tons bíblicos e ecos de tragédias gregas, que o escritor retrata a violenta decadência dos Compson, família aristocrática do sul dos Estados Unidos, que parece viver num desnorteante presente em estado bruto. Com tradução de Paulo Henriques Britto e uma análise crítica de Jean-Paul Sartre publicada em 1939, o clássico de Faulkner ganha nova e definitiva edição.



Resenha:

Primeiramente quero destacar um pouco sobre a vida do autor, William Faulkner nasceu em 25 de setembro de 1897 em New Albany, Mississípi. A decadência do sul dos Estados Unidos, onde sempre viveu, está no centro de grande parte dos seus romances, entre os quais se destacam O Som e a Fúria (1929), Luz em Agosto (1932) e Absalão, Absalão! (1936). Agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1949, recebeu por duas vezes o Prémio Pulitzer de Ficção, com A Fábula (1954) e Os Ratoneiros (1962). Autor central da literatura norte-americana e um dos maiores escritores do século XX, morreu em 6 de julho de 1962.

O Som e a Fúria é o seu quarto romance e a primeira das suas obras-primas indiscutíveis, aquela que, mais do que qualquer outra, confirmou Faulkner como figura central da literatura do século XX. Publicado em 1929, "O Som e a Fúria" não é uma leitura fácil, pois é usado o fluxo de consciência, ruptura de sintaxe, um enredo não linear, e assim sua leitura requer uma atenção mais do que redobrada, e mesmo assim, digo que pode-se ter que reler algumas partes. Parece ser realmente um intrincado quebra-cabeças cujas peças vão sendo encaixadas bem lentamente até chegar à última peça, e quem tiver a paciência para tal, será recompensado. 

Faulkner narra a decadência de uma família outrora aristocrática do Sul dos Estados Unidos, os Compson, centrando- se no destino trágico de Caddy Compson e da sua filha, Quentin. Mas durante muitas páginas não sabemos nada disto, já que o autor recorre às memórias e aos monólogos interiores de três irmãos de Caddy, e nenhum deles é uma testemunha confiável. 

A obra está dividida em quatro partes, às quais se soma um apêndice. A que abre o romance, tem como narrador Benjamin ou Benjy Compson de 33 anos, mudo e deficiente mental, o irmão mais novo de Caddy. Ler estas páginas desprevenidamente pode tornar-se uma experiência desconcertante. A narrativa é desarticuladada, com pontos obscuros e pode-se perder com os frequentes saltos temporais, e foi realmente difícil de ler essa parte, eu não fazia idea do que estava se passando. Imagino que muitas pessoas devem desistir de ler esse livro, pois o começo é de extrema dificuldade e difícil de entender, e facilmente de se perder na leitura. Faulkner procura surpreender o leitor para que este reflita o modo como a mente de seus personagens funciona, e não o modo como estas falariam se pretendessem comunicar com alguém, o que o leva a bruscos saltos no tempo, a mudanças de assunto por associações de ideias e a outras quebras na linearidade lógica e cronológica da narrativa. Para facilitar um pouco a tarefa da leitura, Faulkner assinala os saltos no tempo com o recurso itálico. Benjy usa também um vocabulário básico e frases curtas. E, claro, não lhe passa pela cabeça explicar-nos, por exemplo, que tem dois parentes com o mesmo nome: o seu irmão Quentin e a sua sobrinha, filha de Caddy, o que complica um pouco as coisas.

Quentin Compson, o irmão mais velho, o escolhido pelos pais para estudar em Harvard. Ele é completamente neurótico e instável, obcecado pelas glórias passadas da família e assombrado por conceitos puritanos de honra e pecado, é justamente o narrador da segunda parte, que decorre em 1910. No entanto, apesar deste recuo de 18 anos, o salto cronológico quase não se sente, já que a generalidade das recordações de Benjy dizem respeito à sua infância, ao passo que as memórias mais vivas de Quentin é sobre à sua adolescência, quando começou a ver à nascente sexualidade da irmã, em cuja promiscuidade iria ver o sinal definitivo da ruína moral do clã. A narração de Quentin, se não sofre das limitações da do irmão, não é menos perturbadoramente fragmentada. Na verdade, só no terceiro capítulo, cujo narrador é Jason, o irmão imoral e sádico, é que as peças começam a se encaixar nos seus lugares. Só então se torna claro que Benjy é deficiente mental e que a narração de Quentin tem lugar no dia em que este se suicida. Com Jason, o presente da narrativa regressa à véspera do dia em que o livro começa. E, ao contrário dos seus irmãos, Jason está mais preocupado com o presente do que com o passado. Se eu havia achado a primeira parte difícil, esse foi ainda mais, digo, um dos mais difíceis do livro. 

Finalmente, a última parte recorre a um narrador omnisciente e dá particular destaque à velha criada negra, Dilsey, provavelmente a única personagem capaz de um olhar lúcido sobre os Compsons e o seu destino. Argumentando, com ironia, que nenhum dos quatro narradores - as três personagens e ele próprio - tinha conseguido contar a história, Faulkner acrescentou ao livro o já referido apêndice, onde fornece informações relativas ao passado aristocrático da família e ao que lhe sucedeu em anos posteriores ao período de que a obra trata.



Assim, se apresenta O Som e a Fúria, em suma, é a tragédia da família Compson, apresentando algumas das personagens mais memoráveis da literatura: a bela e rebelde Caddy, Benjy, o filho varão, o assombrado e neurótico Quentin; Jason, o cínico brutal, e Dilsey, a criada negra. Com as suas vidas fragmentadas e atormentadas pela história e pela herança, as suas vozes e ações enredam-se para criar o que é, sem dúvida, a obra-prima de Faulkner e um dos maiores romances do século XX. 

Pesquisando sobre o autor, li que William Faulkner afirmou muitas vezes que O Som e a Fúria era o seu romance favorito porque era o que lhe tinha causado mais sofrimento e angústia para escrever. Neste magnífico romance, publicado pela primeira vez em 1929, Faulkner criou sua maior obra prima, a bela e trágica Caddy Compson, cuja história nos conta através dos monólogos separados dos seus três irmãos: Benjy, o deficiente mental; Quentin, o suicida neurótico; e o monstruoso Jason. 



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