23.2.18

[Crítica de Filme] "Cartas Para um Ladrão de Livros" @BoutiqueFilmes



Data de lançamento 1 de março de 2018 (1h 34min)
Direção: Carlos Juliano Barros, Caio Cavechini
Elenco: atores desconhecidos
Gênero Documentário
Nacionalidade Brasil
Classificação: 5 estrelas

Sinopse: Laéssio Rodrigues de Oliveira é considerado pelas autoridades brasileiras o maior ladrão de livros raros do país. Ao longo dos últimos cinco anos, este documentário tentou narrar sua trajetória, num percurso que inclui quatro passagens pelo sistema carcerário.
Não é uma história comum a do jovem balconista de uma padaria, obcecado por papéis antigos, que passa a frequentar as altas rodas de merchants e colecionadores de arte e, em seguida, as páginas dos cadernos policiais. Ao mesmo tempo, a decisão de contá-la envolve dilemas para os quais nem Laéssio nem o próprio documentário estavam preparados.
Ainda que por caminhos tortos, Laéssio evidencia a necessidade de o Brasil cuidar de sua própria História.


Crítica: 

Você provavelmente já ouviu falar de Laéssio Rodrigues de Oliveira. Por muitos anos ele apareceu nos principais noticiários televisivos e jornais impressos, já que é considerado o maior assaltante de obras raras do Brasil. Apaixonado por Carmem Miranda, seus primeiros furtos aconteceram com as revistas raras e históricas estampando a cantora. Depois, foi apenas questão de tempo para ele começar a furtar a história de um país que não cuida da própria história. Para refrescar a sua memória, veja abaixo um vídeo que separei de uma reportagem (SP no Ar, Record, 2016) que informa uma das muitas passagens de Laéssio pela polícia: 

LINK DO VÍDEO: https://youtu.be/8DLg9gQI8Zw  


Não gosto muito de documentários que vendem a ideia de que a vida inteira de uma pessoa está sendo reproduzida em 1h e 30 minutos. E, para a minha alegria, o Cartas Para um Ladrão de Livros é totalmente diferente, a direção de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros não pretende vender nada. Na verdade, o documentário conta a história por trás das ações de Laéssio. Somos convidados a embarcar em diversos depoimentos de Laéssio, amigos e especialistas, que tentam traçar para a gente todo o caminho percorrido por ele em relação ao mundo dos furtos e de penitenciárias. 







E, para falar sobre Laéssio, é necessário um parágrafo totalmente novo. Ele sabe o que é arte, entende o propósito da cultura no mundo, leva para a própria vida as frases de artistas da literatura e guarda na memória as fotografias importantes da história. Adorador de palavrões nas horas certas, ele é culto, escreve bem, articula como ninguém e é muito simpático. Posso citar rapidamente um vício que ele alegou possuir para comprovar o quesito graça: urinar em várias garrafas plásticas, colocar todas elas em uma mala de viagem e deixar em uma rodoviária – tudo isso apenas para enganar as pessoas mal intencionadas e ladrões. 






Uma coisa que achei incrível é a relação de proximidade gerada pelo documentário entre os diretores e o Láessio. Eles deixam claro que não possuem nenhum juízo de valor sobre a figura principal da história, mas que precisavam entender Láessio para que o país também entendesse. Essa relação de proximidade a que me refiro está explicita por meio das cartas trocadas entre eles – aqui está o motivo do nome Cartas Para um Ladrão de Livros –, e por diversas ligações telefônicas que são realizadas nesses cinco anos de projeto. Os diretores (que também são jornalistas) fazem um perfil em profundidade de um homem que é muito mais que apenas um ladrão de livros, conversam com a humanidade do ser humano e não esquecem em nenhum momento de passar informações importantes sobre todo o caso envolvendo Láessio. 

Assim, acredito que o documentário é um ótimo trabalho jornalístico que deveria ser demonstrado nas salas de aula do curso de Comunicação. Os diretores apresentaram os fatos por meio de fontes seguras, não utilizaram a manipulação de imagens ou sons para plantar ideias no espectador (cito aqui um momento em que Laéssio chora ao ler a carta do marido que está preso – não foi utilizada uma melodia triste ou zoom em suas lágrimas para induzir você a se sentir triste com aquele momento) e, o mais importante, o documentário transportou a figura de Laéssio para as telas sem construir um personagem utópico, sofrido ou guerreiro – ou seja, o Laéssio não é falso. 




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