7.4.18

[Resenha #1600] O Homem de Lata - Sarah Winman @FaroEditorial


O Homem de Lata
Sarah Winman
ISBN-13: 9788595810112
ISBN-10: 8595810117
Ano: 2018
Páginas: 160
Idioma: português 
Editora: Faro Editorial
Skoob
Classificação: 4 estrelas
Compre: Amazon
Sinopse: Em 1963, Ellis e Michael eram dois garotos de doze anos que se tornaram grandes amigos. Durante muito tempo, sempre foram apenas os dois, andando pelas ruas de Oxford, um ensinando ao outro coisas como nadar, descobrir autores e livros e a esquivar-se dos punhos de seus pais dominadores. Até que um dia algo muito maior que uma grande amizade cresce entre eles. Mas então, avançamos cerca de uma década nesta história e encontramos Ellis, agora casado com Annie, e Michael não está mais por perto. O que leva à pergunta: o que aconteceu nos anos que se seguiram? Esta é quase uma história de amor. Mas seria muito simples defini-la assim.



Resenha:
“Tudo por causa de um quadro de girassóis.” (pág. 12)
Publicado pela Faro Editorial, O Homem de Lata, da autora Sarah Winman, traz a bela história de dois melhores amigos. O ano é 1963, em Oxford (Reino Unido), e somos levados para conhecer o início de uma grande parceria. Os dois se encontram quando existem muitas perguntas na vida de cada um: Ellis não entende a apatia da mãe e Michael perdeu ambos os pais. É com essa amizade repleta de conversas sobre a vida, a literatura, a arte e a natureza, que os dois descobrem a sexualidade. Eles sentem algo diferente um pelo outro, algo que é amor, mas que também é muito mais que amor.



“Homens e meninos deveriam ser capazes de fazer coisas bonitas.” (pág. 38)
“A vida não era tão divertida sem Michael. Não tinha tanto colorido sem ele. A vida não era vida sem ele. Se ao menos Ellis tivesse conseguido dizer isso a Michael, talvez ele tivesse voltado.” (pág. 55)
“O original fora pintado por um dos homens mais solitários do mundo, mas em um frenesi de otimismo, gratidão e esperança. Uma celebração do poder transcendental da cor amarela.” (pág. 66)
“Não quero ser definido por isto. Nós já fomos muito mais do que tudo isso.” (pág. 92)
“Assim começamos a viver em um mundo só nosso. Um lugar onde não falávamos sobre o que ou quem éramos, apenas sentíamos o corpo do outro, e por alguns anos isso foi suficiente.” (pág. 96)
Alguns anos se passam e temos noção de como eles estão. Ellis está casado com Annie, uma mulher perfeita. Diferente do que imaginamos, o carinho mútuo entre os três existe e é extremamente acolhedor para todos. E são com algumas recordações do passado que compreendemos como aquele amor de infância mudou para sempre a forma como eles enxergam a vida. 

“A vida muda de um jeito que não conseguimos prever. Muros vêm abaixo e pessoas são libertadas. Espere e você verá.” (pág. 107)
“Eu jamais poderia inserir uma quarta pessoa em nossa vida. Eu não tinha espaço para amar mais ninguém.” (pág. 121)
“E me pergunto qual poderá ser o som de um coração partido. E acho que deve ser baixo, quase imperceptível, sem nenhuma dramaticidade. Como o som de uma andorinha esgotada caindo suavemente na terra.” (pág. 128)
“Olho para esses jovens, não com inveja, mas com admiração. Está nas mãos deles agora a beleza da descoberta; a infinita paisagem lunar da vida se descortina.” (pág. 135)
“Às vezes, um único enquadramento é suficiente.” (pág. 156)
Esse é o tipo de livro em que revelar mais do que a sinopse seria um erro. Não estou falando apenas de spoilers, mas contar um pouco mais estragaria a leitura para vocês. O que posso falar, com toda a sinceridade, é que existem surpresas atrás de surpresas. Boas e ruins. Ligadas, especialmente, aos personagens. 
Ele é bem curto, mas traz grandeza em suas páginas. A narração em terceira pessoa alterna entre presente e passado. E ela é realizada por dois personagens: Ellis e Michael. No presente, Ellis está vivendo em 1996, tem 45 anos e temos ideia de como foi sua infância e adolescência com algumas lembranças que ele traz à tona. E a narração de Michael é o oposto, ela é realizada por conta de um caderno encontrado por Ellis com anotações datadas de diferentes períodos de tempo. 

Quando Ellis e Michael relembram a infância, lugares e pessoas que não participam mais de suas vidas, é como se um soco fosse direcionado ao nosso coração. Todas as lembranças são desoladoras, porque sabemos que fazem parte de um passado muito querido e que não volta mais para nenhum dos dois personagens. Inclusive, fiquei muito abalada ao saber do destino de alguns deles. Eles são descritos com tanto carisma que acabam se tornando nossos conhecidos. 

Sobre isso, a autora não tem dó. Ela machuca a gente com a escolha de palavras ternas para falar da perda, do perdão e da coragem para viver. Sua escrita é muito imersiva também, ela traz para as páginas as descrições muito bem feitas de lugares (Oxford e França, principalmente), o que deixa um gostinho de quero mais na leitura. Além disso, temos muitas referências diretas e indiretas sobre Vicent van Gogh (quadros e trocadilhos), filmes (por exemplo, Sociedade dos Poetas Mortos), música (David Bowie é mencionado várias vezes) e livros. 


Infelizmente, a autora apresenta os acontecimentos de forma bem rápida. Fiquei perdida em alguns diálogos e precisei voltar a leitura para entender quem estava falando. O único ponto positivo que encontrei nessa rapidez é que ela faz com que fiquemos ansiosos para ler mais e mais. E, por último, a leitura exige atenção redobrada. Principalmente com relação às mudanças de tempo. Ellis e Michael relembram coisas aleatórias ao longo dos anos e não temos nenhuma indicação de que isso está acontecendo. O presente e o passado confundem muito aqui. 

Por fim, não posso deixar de comentar o trabalho da Faro Editorial na diagramação. A história é bem simples, e o que foi feito no livro também leva essa simplicidade. Tudo é muito delicado, desde os traços dos girassóis, até aqueles que representam Oxford e que estão presentes em algumas páginas. 
O Homem de Lata é sobre possibilidades, amor, amizade e superação. Recomendo para todos os leitores que gostam da história de vida do artista Vicent van Gogh, e que estão procurando uma leitura simples, sensível e surpreendentemente triste (daquelas que ensinam algumas coisas sobre o ato de viver).   



Um comentário

  1. Oi, tudo bem? Nossa, que quero demais esse livro! Não o conhecia, mas, pelo fato de falar de sexualidade, já me dá um quentinho no coração. O que mais gostei na narrativa é que ela vai além do clichê, apresentando as vidas adultas dos protagonistas (geralmente, livros LGBTQ ficam muito só na descoberta, né). Adoraria sofrer com este livro haha. Aliás, por ter tantas referências já conquistou mais facilmente ainda meu coração <3 Obrigada pela resenha, adorei a dica e a sua opinião! :)

    Love, Nina.
    www.ninaeuma.blogspot.com

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