29.4.18

[Resenha #1616] A Mulher Na Janela - A.J. Finn @editoraarqueiro


A Mulher Na Janela
Não é paranoia se está realmente acontecendo
A.J. Finn
ISBN-13: 9788580418323
ISBN-10: 8580418321
Ano: 2018
Páginas: 352
Idioma: português 
Editora: Arqueiro
Skoob
Classificação: 5 estrelas
Compre: Amazon
Sinopse: Anna Fox mora sozinha na bela casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo (muito) vinho, assistindo a filmes antigos, conversando com estranhos na internet e... espionando os vizinhos. Quando os Russells – pai, mãe e o filho adolescente – se mudam para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela família perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando através de sua câmera, ela vê na casa deles algo que a deixa aterrorizada e faz seu mundo – e seus segredos chocantes – começar a ruir. Mas será que o que testemunhou aconteceu mesmo? O que é realidade? O que é imaginação? Existe realmente alguém em perigo? E quem está no controle? Neste thriller diabolicamente viciante, ninguém – e nada – é o que parece. "A Mulher Na Janela" é um suspense psicológico engenhoso e comovente que remete ao melhor de Hitchcock.



Resenha:

Se você curte os filmes Janela Indiscreta (1954), Paranoia (2007) e Better Watch Out (2016), então o livro A Mulher Na Janela, do autor A. J. Finn, tem tudo para ser a sua mais nova leitura favorita. 

Anna Fox tem agorafobia, ou seja, nossa personagem principal tem medo de transitar em espaços abertos. O principal problema de Anna é com a vastidão do céu, o simples fato de estar exposta ao ar livre. Já se passaram alguns meses desde o seu grande trauma, um acidente que foi o estopim para a fobia, e ela continua sem coragem de sair da própria casa. 


“Bisbilhotar é como fotografar a natureza: a gente não interfere no que está vendo.” (pág. 9)
“Nenhuma dessas pessoas se tornou minha amiga; a maioria delas eu não encontrei mais do que uma ou duas vezes.” (pág. 21)
“Como paciente, digo que a agorafobia não veio para destruir minha vida: ela agora é a minha vida.” (pág. 25)
Anna passa os dias tomando diversos remédios e bebendo seus vinhos favoritos. Para não sucumbir aos ataques de pânico e a depressão, ela também possui alguns hobbies. Anna gosta de jogar partidas online de xadrez e conversar com outras pessoas que também são agorafóbicas. Mais do que isso, ela gosta de observar a vizinhança da sua janela. Para Anna, seus vizinhos têm vidas muito mais interessantes. 
“Não sou invisível. Não morri. Estou viva para o mundo, à vista dele, e morrendo de vergonha.” (pág. 74)
“Algo está acontecendo comigo, através de mim, algo perigoso e novo. Uma planta venenosa que já criou raízes e agora está crescendo, se expandindo, enroscando-se na minha cintura, apertando meus pulmões e meu coração.” (pág. 110)
Com suas câmeras digitais, ela observa cada família que está ao alcance de seus olhos. O que cada um faz e esconde, traições, manias e linguagens corporais. Não é bisbilhotar, pelo contrário, Anna só quer se sentir parte de um mundo que não é mais dela. Num dia de observação, ela descobre que uma nova família se mudou para a vizinhança, e uma pesquisa rápida no Google informou que se trata de um casal e seu filho. E é após conhecer os membros dessa nova família, que Anna se torna testemunha de um crime terrível. 
“Sou uma peça de museu. Fui deixada para trás.” (pág. 185)
“Às vezes tenho a impressão de que estou afundando no meu próprio cérebro.” (pág. 188)
“Houve um tempo em que minha mente era um arquivo muito bem organizado. Hoje é um cúmulo de papéis que são levados pelo vento.” (pág. 214)
“Mouse. Teclado. Google. Celular. Minhas ferramentas.” (pág. 217)
“Não é paranoia se está realmente acontecendo.” (pág. 224)
“O desenho. A fotografia. O brinco. O estilete. Todos os meus argumentos.” (pág. 277)
“(...) não é isso que venho fazendo esse tempo todo? Lutando contra a realidade? Distorcendo, criando e adulterando os fatos?” (pág. 284)
“A vida me fez assim.” (pág. 289)
“(...) se não quero morrer, preciso começar a viver.” (pág. 373)
Contar mais do que isso estragaria toda a leitura para você. Isso porque durante a história, muitos personagens revelam suas verdadeiras intenções, situações são desmentidas e você se pega analisando tudo o que acontece. O autor não traz uma trama simples e fácil, deduzindo que quem está lendo não sabe acompanhar um thriller. Pelo contrário, apesar da escrita, tudo é muito bem pensado e construído. Muitas vezes, as respostas podem ser encontradas em diálogos e situações, mas isso só vai acontecer se você prestar bastante atenção. 

O autor insere a história no panorama contemporâneo em que vivemos. Anna usa câmeras digitais para observar o mundo que gira fora de casa e, diferente dos filmes que citei no começo, ela utiliza muito a internet para se aprofundar em suas pesquisas sobre cada vida que observa com tanto afinco. “Quer dizer então que a internet é tipo... sua janela para o mundo.” (pág. 76)

Falando nisso, o autor também utiliza o recurso de mensagens de texto, chamadas de vídeos e e-mails (que têm uma importância significativa para a história). Esse recurso é algo que gosto muito, como já mencionei em outras resenhas, e que também reafirma o fato de que ele traz a sua história para a modernidade em que estamos inseridos. Por exemplo, Anna entra no Ágora, uma espécie de fórum dedicado às pessoas com a mesma fobia que ela. 
Sobre a escrita, ela é muito objetiva e sincera. O autor utiliza frases curtas para revelar algo, o que dá maior impacto. Ao mesmo tempo, ele descreve com precisão os momentos de agonia e pânico de Anna, sem dó nem piedade do leitor. A leitura foi instigante demais, não conseguia largar o livro nem mesmo para dormir. Eu me vi presa em cada palavra, cada diálogo e em cada descrição realizada pelo autor. 


Outra coisa incrível é a ligação implícita da força da natureza com os acontecimentos que envolvem Anna. Por exemplo, quando ela tenta sair de casa, que é algo desafiador e terrível para alguém com agorafobia, lá fora está chovendo muito, as nuvens estão cinzas e o chão está repleto de poças. Quando Anna está em um dia tranquilo, bebendo seu vinho, jogando xadrez ou conversando online com pacientes, o dia lá fora está de acordo com seu humor, quente, sem muitos ventos, com um sol gostoso. 

Posso exemplificar também outra genialidade do livro. Logo no começo, existe uma conversa entre Anna, a filha e o marido. A principio, tudo indica que eles estão ao lado dela, fazendo uma espécie de visita, mas depois é revelado que era uma conversa por telefone. Pode parecer algo simples, mas esse detalhe final fez toda a diferença para a leitura. Em outro momento, existe um sonho. Durante o acontecimento, parece que Anna e o marido estão no presente, finalmente em contato um com o outro, mas, na verdade, era apenas uma lembrança muito vivida dela. Aqui, em ambos os casos, repito: preste muita atenção em cada palavra.


Não posso esquecer de mencionar a quantidade incrível de referências culturais, principalmente com relação a alguns clássicos e “farofas” do cinema. A personagem claramente é uma cinéfila e, o fato de estar em casa o tempo todo faz com que ela tenha tempo para assistir a muitos filmes, inclusive um que citei no começo do texto. Além disso, algumas cenas dessas obras se misturam com acontecimentos do próprio livro, como se um completasse o outro. 

A Mulher Na Janela, do autor A. J. Finn, é aquela leitura de tirar o fôlego, irresistível, instigante, repleta de surpresas e dúvidas. Recomendo para todos os tipos de leitores, principalmente para os detetives literários de plantão, que desconfiam de todos os personagens e se envolvem na leitura em busca do culpado. 




Nenhum comentário

Postar um comentário

© BLOG ROTINA AGRIDOCE- TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | Design e Programação por MK DESIGNER E LAYOUTS