28.1.20

[Resenha #1702] Aos dezessete anos - Ava Dellaira @EditoraSeguinte


Aos Dezessete Anos
Ava Dellaira
ISBN-13: 9788555340673
ISBN-10: 8555340675
Ano: 2018
Páginas: 448
Idioma: Português
Editora: Seguinte
Classificação: 5 estrelas
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SINOPSE:
Em seu novo romance arrebatador, a autora de Cartas de amor aos mortos apresenta uma mãe e uma filha que precisam compreender o passado para poder seguir em frente. Quando tinha dezessete anos, Marilyn viveu um amor intenso, mas acabou seguindo seu próprio caminho e criando uma filha sozinha. Angie, por sua vez, é mestiça e sempre quis saber mais sobre a família do pai e sua ascendência negra, mas tudo o que sua mãe contou foi que ele morreu num acidente de carro antes de ela nascer. Quando Angie descobre indícios de que seu pai pode estar vivo, ela viaja para Los Angeles atrás de seu paradeiro, acompanhada de seu ex-namorado, Sam. Em sua busca, Angie vai descobrir mais sobre sua mãe, sobre o que aconteceu com seu pai e, principalmente, sobre si mesma.



RESENHA: 

São sete bilhões de pessoas no mundo, mas a autora Ava Dellaira escolheu contar a história de duas adolescentes. No final dos anos 90, Marilyn Miller tem dezessete anos e está provando o sabor amargo de estar crescendo. O frescor da infância desapareceu e levou junto todas as chances de conseguir atuar em comerciais e fazer trabalhos como modelo. Apesar de isso ser um infortúnio para sua mãe, uma mulher que está acostumada com a vida boa proporcionada por Los Angeles, Marilyn não se importa mais em vender sua imagem. Na verdade, ela ama fotografia e passa grande parte de seu tempo tirando fotos imaginárias e imaginando um futuro longe das obsessões da mãe. Por conta do dinheiro que não entra mais na conta, as duas se mudam para o apartamento do tio de Marilyn, um bêbado que permite a presença delas apenas porque isso significa que a geladeira vai estar sempre abastecida com as melhores cervejas. 
“(...) você tem que ser quem as pessoas que ama esperam que você seja. E nem sempre é você mesmo, infelizmente.” (pág. 16)
E é nessa fase complicada de sua vida que Marilyn encontra refúgio em James Bell, um garoto com um excelente gosto musical, uma tatuagem de pássaro no ombro e os mesmos anseios e objetivos. A família dele a recebe de braços abertos também, incluindo Justin, o irmãozinho mais novo de James. Entre uma briga e outra com sua mãe, testes recusados, o humor instável de seu tio e uma vontade de se libertar das amarras de uma vida que nunca a pertenceu, Marilyn só consegue lidar com a maioridade por conta de James e sua constante presença. 
“Com certeza quase todas as pessoas no mundo, os sete bilhões, já tiveram seu coração partido, mas quantas delas foram tolas o bastante para fazer isso consigo mesmas?” (pág. 41)
“O que a mente permite abandonar com o tempo, o corpo não esquece.” (pág. 81)
Em 2016, conhecemos Angela Miller, filha de Marilyn, que está com dezessete anos e uma cabeça cheia de dúvidas. Ela sempre teve que enfrentar os olhares e os comentários que ressaltavam a cor de sua pele e as diferenças entre ela e Marilyn, uma mulher branca e loira. Apesar disso, as duas sempre se mantiveram unidas. Infelizmente, seu pai e seu tio morreram em um acidente de carro e Angie nunca conseguiu suprir essa ausência. Sempre que fazia a menção de tocar no assunto, Marilyn começava a chorar e a demonstrar que apesar dos anos a perda ainda era muito recente. Mesmo assim, Angie continuou vivendo. Encontrou em Sam Stone um namorado carinhoso e sempre se orgulhou da mulher que a criou sozinha. 
“O curioso na beleza, James escreveu, é que de modo algum nega a existência de sofrimento, injustiça, dor. Ela se mantém firme por direito próprio, como sua própria verdade.” (pág. 112)
“Pelo resto da vida, ela nunca vai ter uma história que não seja dele também.” (pág. 126)
Tudo muda quando Angie encontra uma foto. Nela, seu pai e sua mãe, numa praia, jovens e felizes. Além dessa foto, ela descobre uma mentira contada por Marilyn e, ao que tudo indica, seu tio ainda está vivo. Uma luz no fim do túnel surge no coração de Angie. E, assim, com a ajuda de Sam, agora seu ex-namorado, Angie deixa a mãe e parte em busca dessa resposta. Seu pai também pode estar vivo!
“Todo mundo tem um universo inteiro dentro de si.” (pág. 143)
“Cento e sete bilhões de pessoas passaram pela terra, e há traços dos mortos em toda parte, ainda que invisíveis aos vivos.” (pág. 167)
Comecei a leitura sem muitas expectativas. Por conta do título, supus que teríamos aqui mais uma história sobre namoros na adolescência, mas fui surpreendida. É uma história que toca fundo no nosso coração e que destrói a gente com determinados acontecimentos. Ela é narrada em terceira pessoa por Angie e Marilyn. Essa escolha de mostrar os pontos de vista de mãe e filha em tempos diferentes, mas com a mesma idade, foi certeira e extremamente importante para esclarecer todas as dúvidas da trama. E essas mudanças de perspectiva são bem orquestradas e acontecem nos momentos certos. 

A escrita da autora é objetiva, repleta de frases curtas e referências culturais envolvendo livros e músicas de cada época (anos 90 e 2016). Uma das coisas mais interessantes é que ela não romantiza a adolescência. Apesar de pintar essa fase da vida com cores vibrantes ao mostrar o primeiro beijo, o primeiro amor e algumas conquistas, ela também ilustra o outro lado. Por exemplo, o racismo, o assédio sexual, as dificuldades financeiras, a dor da perda, uma infância difícil, a culpa, a maternidade e a importância de uma boa criação. 

A autora também mostra os dois lados de Los Angeles, o lugar em que grande parte da história se passa. Além de suas descrições serem profundamente imersivas, ela não apenas mostra a beleza que é retratada no cinema, mas também o que realmente acontece nas periferias, escondidas debaixo do letreiro de Hollywood, invisíveis aos turistas, desde o suor pegajoso e impregnado na pele das pessoas em quase todas as estações do ano, até os prédios velhos e descuidados, as ruas sujas, a praia lotada, a pobreza e os crimes raciais. 
Sem contar que a história é instigante. Queremos que a busca de Angie dê certo para sabermos o que de fato aconteceu com James, o garoto que conquistou não apenas Marilyn, mas também o leitor. Essa viagem de Angie para o lugar em que sua mãe viveu um importante momento da adolescência, dezoito anos atrás, é o que nos move a continuar a leitura apesar da melancolia envolvendo as duas personagens. 

Os personagens cativam a gente de uma forma inacreditável. As duas adolescentes, mesmo separadas por anos diferentes, possuem medos, dores e amores que representam essa fase. Angie e Marilyn se tornaram adultas antes do tempo, sempre sentiram como se algo estivesse faltando em suas vidas e lutaram com muito empenho por um futuro distante. E James surge para guiar Marilyn para fora de sua prisão autoimposta, do mesmo modo que Sam também guia Angie para o lugar certo em que ela encontrará uma saída para seus medos. É incrível como as histórias da cada um estão interligadas. 

O livro Aos Dezessete Anos é uma leitura triste e pragmática que reflete os problemas da nossa sociedade. Ele destrói o nosso coração e precisa ser lido com a mesma rapidez que tiramos um band-aid – assim, a dor desses personagens não atinge a gente com tanta força. Caro leitor, esqueça o “Felizes Para Sempre”, a autora retrata a vida real, de gente que luta todos os dias para sobreviver em meio ao caos da vida. 




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