4.8.17

[Resenha #1280] Prisioneiras - Drauzio Varella @cialetras



Prisioneiras
Drauzio Varella
ISBN-13: 9788535929041
ISBN-10: 8535929045
Ano: 2017
Páginas: 280
Idioma: português 
Editora: Companhia das Letras
Skoob
Classificação: 5 estrelas
Compre: Amazon

Sinopse: Alçando as mulheres encarceradas a protagonistas, o médico rememora os últimos onze anos de atendimento na Penitenciária Feminina da Capital, que abriga mais de duas mil detentas. São histórias de mulheres que não raro entram para o crime por conta de seus parceiros inclusive tentando levar drogas aos companheiros nas penitenciárias masculinas em dias de visita, porém que são esquecidas quando estão atrás das grades. As famílias conseguem tolerar um encarcerado, mas não uma mãe, irmã, filha ou esposa na cadeia. No ambiente carcerário feminino, há elementos comuns às penitenciárias masculinas. Assim como no Carandiru, um código de leis não escrito rege as prisioneiras; o Primeiro Comando da Capital (PCC) está presente e mostra sua força através das mulheres que integram a facção; e a relação entre aquelas que habitam as cadeias não é menos complexa. As casas de detenção femininas, no entanto, guardam suas particularidades diferenças às quais o médico paulistano dedica atenção especial em sua narrativa. Desde a dinâmica dos atendimentos e a escassez de visitas até os relacionamentos entre as presas, fica nítido que a realidade das prisões escapa ao imaginário de quem vive fora delas. Prisioneiras é um relato franco, sem julgamentos morais, que não perde o senso crítico em relação às mazelas da sociedade brasileira. Nesse encerramento de ciclo, Drauzio Varella reafirma seu talento de escritor do cotidiano, retratando sua experiência e a vida dessas mulheres com a mesma disposição, coragem e sensibilidade que empreendeu ao iniciar seu trabalho nas prisões há quase três décadas.

Resenha:

Gosto muito da escrita de Drauzio Varella, o primeiro livro que li dele foi “por um fio”, e seu jeito de narrar as histórias logo me envolveu; em seguida li estação Carandiru que se tornou um dos meus livros preferidos; continuando os relatos sobre o sistema presidiário ele escreveu carcereiros e agora encerra a trilogia com prisioneiras.


Prisioneiras conta a histórias de como situações de sorte ou azar, o meio em que são criadas, envolvimento com pessoas erradas, e consumo de drogas, levaram diferentes mulheres para a prisão. Nós somos presenteados com um relato sem julgamentos, pois como o próprio Drauzio diz, ele é médico e não Juiz para rotular as ações daquelas mulheres. Ao decorrer da narrativa nos desgarramos de preconceitos e passamos a nos surpreender com a história de humanos.
“ Com a fisionomia abatida, uma loira alta que aos 32 anos já colecionava cinco mortes no prontuário, inclusive a de uma companheira de cela, asfixiada com um travesseiro em campinas, razão de sua transferência para o seguro em São Paulo, queixou-se em voz baixa:- Aqui ninguém dorme, doutor. Estou pagando caro pelos meus pecados, o inferno não pode ser pior”. Pág 29



Drauzio narra a organização do presídio feminino onde atende como voluntário há 10 anos, e nos apresenta ao funcionamento daquele ambiente; os presídios femininos logo se diferenciam do masculino pelo barulho das conversas; outra diferença marcante é a visitação, em presídios masculinos as visitantes fazem fila desde o sábado, esperando para entrar no domingo; no feminino a fila no domingo é minúscula, e mais da metade das presas não recebem nenhuma visita. Ao serem confinadas acabam abandonas por familiares e parceiros.
“Um observador desavisado ficaria revoltado com tamanha cegueira da justiça. A julgar pelas histórias que as mulheres contam, nenhum é culpada de coisa alguma... Para explicar o crime que as levou à prisão, repetem um mantra:- Estava no lugar errado, com as pessoas erradas, na hora errada.”. pág 31
Muitas das mulheres são presas em flagrantes tentando levar droga para os seus cônjuges dentro presídio, afim de os livrar de ameaças e ajudar na sobrevivência dentro da penitenciária, fazem por amor, e acabam confinadas e abandonadas.



As mulheres normalmente são prisioneiras no dia a dia, não podemos usufruir de liberdades que são banais para os homens; e muitas mulheres, principalmente aquelas que moram em periferias se veem obrigada a encarar uma dura realidade para a qual não há muitas saídas; para sustentar irmãos, pais e filhos acabam encontrando no tráfico uma possibilidade de dinheiro fácil, e mergulham em uma vida com pouca segurança; ao serem presas seu filhos ficam abandonados e muitas vezes se veem obrigados a seguir o mesmo caminho, criando um ciclo vicioso.
“ De todos os tormentos do cárcere, o abandono é o que mais aflige as detentas. Cumprem suas penas esquecidas pelos familiares, amigos, maridos, namorados e até pelos filhos. A sociedade é capaz de encarar com alguma complacência a prisão de um parente homem, mas a da mulher envergonha a família inteira”. Pág 38
Esse livro é daqueles que mechem com o leitor, é impossível ler as histórias e não se envolver, e se indignar como a sociedade que estamos inseridos interfere no nosso dia a dia, e como a sorte ou azar de nascer em determinado lugar de risco pode mudar o rumo de nossas vidas de forma definitiva.
Leitura mais do que recomendada! 
“Nesses dez anos, diversas vezes ouvi uma frase que jamais imaginei escutar numa cadeia:- Graças a Deus fui presa.A justificativa?- Do jeito que eu estava, ia morrer na rua”. Pág 74

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